Yolande Cornelia “Nikki” Giovanni, Jr. nasceu no dia 7 de junho de 1943, em Knoxville, Tennessee, nos Estados Unidos. Considerada uma das importantes poetas afro-americanas da atualidade, usa das suas obras para conscientização social sobre questões raciais. Ganhou vários prêmios, incluindo a medalha Langston Hughes, o NAACP Image Awards. Foi indicada ao Grammy Award por seu álbum The Nikki Giovanni Poetry Collection. Recentemente, foi intitulada como uma das 25 Oprah Winfrey’s “Living Legends”.

Nikki Giovanni ganhou fama no final dos anos 60, sendo uma das autoras pioneiras do Movimento “Black Arts”. Influenciada por Movimentos dos direitos civis dos negros nos EUA, tais como o “Black Power”, sua poesia apresentava uma grande força combativa. Por conta disso, foi apelidada de “Poeta da Revolução Negra”. Já na década de 70, começou a escrever literatura infantil e fundou a editora NikTom, com o objetivo de abrir portas para autoras negras nos país. Atualmente é professora titular no Virgínia Tech.

Se eu tiver que ir ao hospital

Se eu tiver que ir ao
Hospital
Por favor que seja
Nos Apalaches
Com as vozes nasaladas
E os sorrisos suaves

Será que os hospitais são tão
Eficientes
Por causa dos Hatfields
E dos McCoys?
É muito tempo de
Prática

Meu braço é tatuado
Por uma enfermeira
Que não consegue achar
Minha veia

Estou aqui
Porque não consigo
Me lembrar

Uma leve convulsão
Parece que uma pontinha
De paixão
Traz palpitações

*

Tem uma biblioteca
Ali
Meus livros foram para
A Universidade Dillard
Onde Marvalene Hughes
É minha amiga

Os livros doados de Lincoln
Heights não são autografados
As terceiras edições
Marvalene autografou
As segundas

Guardo as primeiras edições autografadas
Caso precise de dinheiro
Quando ficar
Velhinha

*

A própria ideia de ele
Não estar lá

Não é mais do que os Pais
Podem suportar

É mais
Do que eles
Querem

Pais
(para Jack)

Os pais não deveriam
Enterrar seus filhos

Não é como se os braços
Acostumados a erguê-los
Para o alto
Não pudessem mais levantar

Nem que a risada
Que ele imitava já não soasse
Mais

Não é nem como
Se as lágrimas
Ricocheteassem afagos
Nas mangas cáqui

E sim o coração
Como se parasse
E não quisesse começar
De novo

Cãibra nos dedos
Que desgrenhavam seu cabelo

E os olhos
Que refletiam seu orgulho
Nele

Um haiku para Marte

Quando o homem na Lua sorri
Os homens em Marte dançam
Para as sombras
De amor sem-par
De sem-par sem-par sem-par
amor

*

Não sabemos por quê

O remédio para o amor
É sexo
O remédio para a convulsão
É ________

Seja como for
Não parece funcionar

Os hospitais são como avós
Como meu benzinho acordou hoje
E eles te dão comida
Que você não quer comer
E agulhas que te machucam

E você sorri
Porque sabe que
Eles sabem
Que você quer ficar bem
Sem
De jeito algum
Ter que
deixá-los

Tem uma escola

Tem uma escola
Ali
Que vai até o
9º ano
Onde meu pai ensina
Matemática

Fui encontrá-lo uma vez
Descendo a colina
Na minha bicicleta azul

Ele disse depois: “Eu gritei
Quem é aquela criança descendo
A colina? Ela vai morrer”

Eu não estava nem na metade da
Descida

A bicicleta virou e
Fui jogada
Pelo resto do caminho
Perdi sangue, Pele e
Tecido

Foi a última vez
Que fui cumprimentar meu
Pai

*Poemas do livro “[um bom choro]”, Companhia das Letras, 2017.
Tradução de Nina Rizzi