Timothy Tim Walter Burton, nasceu Burbank, Estados Unidos, a 25 de agosto de 1958. Cineasta, produtor, roteirista, escritor, animador e desenhista, também é poeta. Visto como um dos grandes mestres do terror, tendo produzidos filmes como “Beetlejuice” e “Edward Mãos de Tesoura”, além de Batman e a releitura de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, suas obras artísticas apresentam, sempre, aspectos góticos, fantasiosos, excêntricos ou sombrios. Em 1997, escreveu O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias, que ganhou edição brasileira apenas em julho de 2007.

Menino Palito e Garota Fósforo

Menino Palito gostava da Garota Fósforo.
.                   Gostava era pouco:
.                   Sua figura esbelta
.                   O deixava louco.

Mas como acender entre eles
A chama da paixão? Simples.
Foi só seguir seu desejo à risca,
Que ele saiu queimando faísca.

A menina de olhos fitos

Sempre de olhos fixos, arregalados:
Uma menina assim eu conheci.
.     Olhava com o ar parado,
Ar de quem não está nem aí.

Olha pra baixo.

Olhava pro alto.

Punha os olhos um tempão em você,
.    Sem que ficasse claro o porquê.

Mas depois de ganhar a finalíssima
Do Prêmio Garota que Não Pisca

Ela dei finalmente às suas vistas
Umas férias mais que merecidas.

O menino de pregos nos olhos

.   Os problemas ópticos devidos
Aos dois pregos nos olhos do menino
.  Fizeram sua árvore de alumínio
.   Ficar meio fora do figurino.

Menino Mancha

De todos os grandes super-heróis,
.   Ele é muito, muito diferente:
.   Faltam-lhe poderes especiais
E mesmo um carro superpotente.

.  Ele não tem a valentia de Batman
E nem a coragem do Super-Homem.
.  Mas quem o conhece, vira seu fã:
O Super Man… cha! Este é o seu nome.

.  Por sobre arranha-céus ele não voa,
Nem é tão veloz como um trem-bala.
.         O talento pelo qual destoa
É espalhar manchas por onde passa.

Não poder correr, nadar ou voar
É algo que às vezes o contraria,
. Assim como o primeiro lugar
. Nas dívidas com a tinturaria.

O Bebê Âncora

Era uma moça muito linda,
.   Uma diva vinda do mar.
Só havia no mundo um lugar
.   Em que ela desejava estar:

.  Era com Walker. O cara
.  Era uma fera na guitarra,
.  E com ele ela iria para
. Qualquer lugar na Terra.

.  Iria até o fim do mundo!
.       Ela faria de tudo,
. Trocaria o próprio oceano
.     Para ficar com o fulano.

.   Porém nas suas vidas
.       Nada dava liga.
Ela o seguia pelas noitadas,
.  Para acabar só e rejeitada.

Entrava numas de “a vida é bela”,
.  Mas tudo virava chata novela.
Como o mapa astral deles não batia,
.  Ela tentou sexo e necromancia.

Mas a coisa não ia. Ele era muito duro.
.   Mas quem sabe talvez achassem um
.                      ancoradouro…
Ora, uma criança! A solução podia ser
.                     um filho…
.                Pelo sim, pelo não,
.               Tiveram um menino.

Mas para tirar o bebê do ventre
. Foi preciso ajuda de uma grua.
O cordão umbilical parecia uma
Grossa e compridíssima corrente.

.    O feto era triste, feioso
.   E um tanto ferruginoso.
. Em vez da tez tenra e rosa
Sua pele era uma crosta cinza.

.  Para quem queria calmaria
A criança foi uma frente fria,
Antecedendo dias e mais dias
. De tempestade de ventania.

Walker partiu com a banda
.Pra uma longa temporada.
.  Pois o que mais gostava
Era estar com o pé na estrada.

.  Ela se sentia muito sozinha
Cuidando do pequeno ancorazinha.
. Um dia a barra ficou pesada,
. E ela acabou sendo sugada.

.  Chegando no fundo do mar
Não tinha mais o que desejar
.  Era somente ela e seu bebê
E mais um ou outro peixe para ver.

A Menina Trash

Dela ninguém se esquecerá:
.    A cara suja de carvão,
.    A pele de puro cascão,
E uma catinga de gambá.

Talvez não seja difícil saber a reposta
Por que menina Trash vivia tão triste:
É que nunca saía do fundo de uma fossa.

Houve um único breve momento de glória
.           Em toda a sua biografia:
Foi quando Stan, o gari, pediu a mão da guria.
.      O lixo do bairro era ele quem recolhia.

Entretanto antes que o consórcio
.   Virasse sério compromisso,
.    Ela tomou chá-de-sumiço,
Pulando num triturador de lixo.

Breno, o Menino Veneno

Para aqueles que o conheciam
– os seus amigos –
Seu nome era Breno.
.      Para outros, ele era
.    O horrível Menino Veneno.

Amoníaco, amianto, fumaça de cigarro:
.          Era disso que ele gostava.
.        Quem não havia de ter asfixia
.          Com o ar que ele respirava?

.         Seu brinquedinho favorito
.       Era uma bomba de aerosol.
Ficava sentadinho, dedo no spray,
.        De manhã ao pôr do sol.

.      Nas frias manhãs de inverno
Ele se plantava na garagem bem cedo,
.     Esperando a partida do motor
.     E a fumaça do escapamento.

.     Houve apenas uma única vez
.        Em que o vi aos prantos.
.           Foi quando pingaram
.        Colírio em seus olhos.

.     Um dia o puseram no jardim
.            Para tomar ar fresco.
Seus rosto ficou mortalmente pálido,
.       E seu corpo, duro e seco.

.    De sua curta vida, o último suspiro
.   Foi para ele o cúmulo do desespero.
Quem imaginaria que o instante derradeiro
.   Pudesse vir de uma rajada de puro ar?

.  Quando a alma abandonou o corpo,
. Fizemos todos uma oração em silêncio.
.  Foi então que lá no alto céu apareceu
.   Um buraco na camada de ozônio.

O Menino Ostra sai para passear

.   E como era noite de Halloween,
O menino Ostra se fantasiou de ser humano.

*Poemas do livro “O Triste Fim do Pequeno Ostra & Outras Histórias”, Editora Girafinha, 2007.
Tradução de Márcio Suzuki