Mia Couto
Antônio Emílio Leite Couto, mais conhecido pelo pseudônimo Mia Couto, nasceu no dia 5 de julho de 1955, na cidade da Beira, em Moçambique. Filho do também poeta Fernando Couto, Mia é um dos mais importantes escritores contemporâneos da língua portuguesa, tendo suas obras traduzidas em todo o mundo. Ganhador do Prêmio Camões de 2013, se tornou, como sócio correspondente, o único escritor africano membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito em 1998, para ocupar a cadeira nº 5.
Além de poeta, Mia Couto escreve contos, romances e crônicas. Seu primeiro romance, “Terra Sonâmbula”, publicado em 1992, escrito em prosa poética, ganhou, em 1995, o “Prêmio Nacional de Ficção” da Associação dos Escritores Moçambicanos. A obra foi considerada um dos 12 melhores livros africanos do século XX.
Poemas de Mia Couto:
Beber Toda a Ternura
Não ter morada habitar como um beijo entre os lábios fingir-se ausente e suspirar (o meu corpo não se reconhece na espera) percorrer com um só gesto o teu corpo e beber toda a ternura para refazer o rosto em que desapareces o abraço em que desobedeces
Saudade
Que saudade tenho de nascer. Nostalgia de esperar por um nome como quem volta à casa que nunca ninguém habitou. Não precisas da vida, poeta. Assim falava a avó. Deus vive por nós, sentenciava. E regressava às orações. A casa voltava ao ventre do silêncio e dava...
Espiral
No oculto do ventre, o feto se explica como o Homem: em si mesmo enrolado para caber no que ainda vai ser. Corpo ansiando ser barco, água sonhando dormir, colo em si mesmo encontrado. Na espiral do feto, o novelo do afecto ensaia o seu primeiro infinito.
Identidade
Preciso ser um outro para ser eu mesmo Sou grão de rocha Sou o vento que a desgasta Sou pólen sem insecto Sou areia sustentando o sexo das árvores Existo onde me desconheço aguardando pelo meu passado ansiando a esperança do futuro No mundo que combato morro no mundo...
Para Ti
Foi para ti que desfolhei a chuva para ti soltei o perfume da terra toquei no nada e para ti foi tudo Para ti criei todas as palavras e todas me faltaram no minuto em que talhei o sabor do sempre Para ti dei voz às minhas mãos abri os gomos do tempo assaltei o mundo e...
O Amor, Meu Amor
Nosso amor é impuro como impura é a luz e a água e tudo quanto nasce e vive além do tempo. Minhas pernas são água, as tuas são luz e dão a volta ao universo quando se enlaçam até se tornarem deserto e escuro. E eu sofro de te abraçar depois de te abraçar para não...
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