Jorge Alberto de Souza, mais conhecido como Jorge Piri, nasceu em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, e é formado em Engenharia Química pela Faculdade de Lorena (SP). Ator, poeta e ativista cultural, participou por cerca de dez anos do Grupo Quartzo de Teatro em Macaé (RJ), com trabalhos na área de arte e educação em escolas da cidade e nas plataformas de petróleo da Petrobras, onde foi funcionário por 25 anos. Possui três livros de poesia publicados: “Outra Face”, “Colibri” e “O Sorriso da Lua”.


BLECAUTE

Havia muitas estrelas
na noite da cidade, às escuras,
e eu cavaleiro solitário
vagava pelas calçadas, olhando-as,
e vi uma estrela cadente
o rastro de um cometa
e a lua ainda nova.
O céu é muito bonito
na sua própria luz.
E em meio a esse vagar andarilho
vejo a noite passando, passando
ao encontro do clarão do dia
enquanto eu vou me esvaindo
em branco.
A minha boca sente a falta
do teu beijo
e o meu corpo abraça o vazio.
Como é difícil uma noite escura
em branco.

GARIMPEIRO DE PÉROLAS

Eu que sempre tive e ainda tenho medo de água
(por isso não aprendi a nadar)
eu que tenho travado perdidas batalhas
contra a água,
ora por baixo, boiando e arrastado
pela correnteza,
ora por cima,
lavado da cabeça aos pés,
eu que tenho impensadamente desafiado a água
vivendo no oceano,
me descobri, um pescador de ostras,
um garimpeiro de pérolas.

JOGO

As cartas sobre a mesa
vão definir o meu futuro
porto seguro ou além – mar.
Vida desregrada
decidida numa mesa de bar.
Tudo não passou de um jogo de damas
tramas de um coração descuidado.
Um passo em falso e xeque-mate.
Cada um pro seu lado e eu aqui.
Fim de noite, jogo no fim.
Em mais uma roleta russa
apostei em dois amores.
Advinha no que deu?
Perdi.

*Poemas do livro “O Sorriso da Lua”, Taba Cultural, 2015.