Michelle C. Buss nasceu em Jaguari, Rio Grande do Sul, em 1988. Formada em Comunicação Social pela PUCRS e em Letras pela UFRGS é também mestre em Estudos de Literatura pela UFRGS, pesquisando o Ocultismo na obra de Fernando Pessoa. Com quatro livros publicados até o momento, também já contribuiu com diversas revistas literárias e, ao lado do poeta Léo Cruz, é co-fundadora do sarau artístico literário Poetaria.

 

VOZES DA ANTIGA ÍTACA

as lágrimas são
fios sanguíneos
enrodilhados no chão da minha vida
dos eu faço tapeçaria
trama em carmim
urdidura de dor
no vermelho um tanto de ferida
no vermelho um rusgo de paixão
fiando
fiando
fiando
quantas Penélopes ainda se desfiam
em genéticas de sofrimento
tecendo na cozinha,
escondida nos quartos,
na tela de seus corpos
ecos distantes
dias no Egeu, noites no Mediterrâneo
na tela de seus corações tecendo
à espera de um suposto Ulisses?

Poema do livro “um parêntesis sobre distâncias”, de 2021, editora Bestiário.

CONTAGEM D’ESTÓRIAS

reescrever a história
revoada de silêncios
sobrevoando
a fogueira queimando
memórias
esquecimentos
diluindo o tempo
vazio de vozes
silêncios
intervalo intermináveis
entre ausências e inexistir

Que história é essa que hoje sabemos?

Poema do livro “um parêntesis sobre distâncias”, de 2021, editora Bestiário.

ATO DESMEDIDO

todo criador é um tradutor
todo tradutor é um criador
tudo parte do mundo
imaginação que transcende
o que muda é se a escolha do tom do fio
tece o formato da teia
ou se é o formato da teia que
determina a escolha do tom do fio

Poema do livro “um parêntesis sobre distâncias”, de 2021, editora Bestiário.