Célestin Monga, nascido na República de Camarões, em 1960, é um dos mais reconhecidos intelectuais de seu país.  Economista-chefe e assessor do vice-presidente do Banco Mundial em Washington, Estados Unidos, lecionou economia e ciências políticas na Universidade de Boston e de Bordeaux. Em 1991, ele se tornou popular após ter sido preso por criticar o presidente Paul Biya em um artigo que escreveu para o jornal “Le Messager”. Sua prisão causou vários protestos pelo país.  Suas obras tem bases niilistas à negritude, levantando hipóteses de uma ética do mal, ao apresentar, sem exotismo, visões sobre a arte de viver na África.

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Cada qual em seu lugar
O vazio está ausente a partir de agora
A diferença asfixia, tolhe,
Qual imutável fronteira
Será que nunca haverá outro amanhã?
Será possível um dia
Escrever de outro modo
A equação da dignidade humana?

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Tipologia de um subterfúgio
Chagas de um crepúsculo ferido
Cavalgadas ridículas pelo nada
Ideias negras
Constelações de escórias
Quantos encontros frustrados
Agora o ódio amolece na resina das lágrimas
Ouço sangrar uma tropa de sonhos acorrentados
Como polens secos nas portas da graça
Os próximos acertos serão noturnos

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Paralisado em sua impotência
O homem expõe a nudez imunda
A estupidez sobre ele se espalha
Tal um creme esfoliante
Acariciar o torpor coletivo
É essa a sua prestigiosa vocação
Mas como continuar seguro de seus passos
Quando o barulho se evapora tão de repente
Quando os humores não são nada conhecidos
Como mover-se na multidão
Quando a tormenta se forma nas cabeças

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Meus sentidos embarcaram na galera
Encalhada em sua incurável obstinação
Minha vergonha já não tem espessura
O orbe espera que o tempo voe em seu socorro
Salivas fétidas e regurgitadas
Escorrem sobre meu abatimento
– extrema tensão após longa caminhada sobre o fio da navalha
Meu povo meneia a cabeça
Meu povo de joelhos na lama
Meu povo que se alimenta com as cinzas de seus mártires

*Poemas retirados do livro, “Fragmentos de um crepúsculo ferido”, Contraponto editora e Realejo edições, 2020. Tradução de Estela dos Santos Abreu