Màrius Torres nasceu a 30 de agosto de 1910, na cidade de Lérida, Espanha. Considerado um dos mais importantes poetas catalães durante as primeiras décadas pós-Guerra Civil, sua poética representa atualmente uma forte voz humanista, liberal e republicana na Catalunha.  A maior parte de sua obra foi escrita entre os anos de 1935 e 1942, quando precisou viver no sanatório de Puig d’Olena, para tratamento de tuberculose. Seus poemas foram publicados após a sua morte, primeiramente no México, pelo colega escritor Joan Sales. Torres faleceu no dia 29 de outubro de 1942, com apenas 32 anos, em Sant Quirze Safaja, na Espanha.

A morte

Folhas do choupo-tremedor,
quem tivessem como vocês
na ribeira
um viver tão sensível,
uma morte tão secreta.

Como os sorrisos
sobre um espelho hermético,
a Primavera
desliza sobre os túmulos,
mas não pode entrar lá dentro.

Saudade

Gosto tanto da minha saudade,
que, se ao país que choro,
um anjo me quisesse guiar repentinamente,
diria ao anjo: espera, espera um momento,
agora não posso ir, não vês que estou a morrer?

Os rostos nos sonhos

Tal como o amor, numa hora mais viva,
os desejos aproximem-se, sorriem e vão-se embora,
deixando apenas luz de um sorriso que chega,
os rostos nos sonhos desvanecem-se, a cantar.

Escuro entre duas luzes, um silêncio separa
os meus sentidos que dormem do sentido do seu jogo.
Eles falam uma língua misteriosa e clara;
quando eu lhes falo, sorriem, também sem me perceberem.

Oh, rostos, o que é que vos une através das trevas?
O meu coração vem até vocês, ágil e como que febril,
e nunca vê os vossos olhos nem consegue perceber as vossas palavras.

Hóspedes alados, lanternas da minha alegria!
Porque é que nunca são tantos como o meu coração desejaria,
se quando vêm muitos não tenho coração para todos?

Isto é o júbilo

Isto é o júbilo – ser um pássaro, cruzar
um céu onde a tempestade deixa uma paz intensa.

E isto é a morte – fechar os olhos, ouvir
o silêncio quando a música começa.

*

Eu sinto em mim a música de um gozo imaculado
que às vezes está longe e às vezes se aproxima.
Como outros estão para a fé ou para a caridade,
talvez eu viva para esta esperança

que nunca, nem quando perdido ao fundo do meu deserto
a minha alma me parece tão vã como a areia,
desfalece, humilde vereda sempre aberta,
onde cada noite qualquer pegada se apaga.

Só que, se numa mente poderosa a fé
cativa como uma grande árvore florida até cima,
e nunca o amor brilha tão nobre e tão sereno
como quando ama aquele que não o ama,

se tenho de viver apenas para esperar
que seja a saber tudo sobre a mágoa e a mentira;
e, meu Deus, que não deixe de esperar mais além,
se o que espero não é desta vida.

*Poemas do livro “A Cidade Longínqua”, OVNI – 2010. Tradução de Rita Custódio e Alex Tarradellas