Cleber Pacheco nasceu no dia 15 de setembro de 1965, na cidade de Esmeralda, Rio Grande do Sul. Especialista em Filosofia e Mestre em Literatura Brasileira, possui livros publicados em diversos gêneros, entre eles: romance, novela, conto, poesia, teatro e crítica literária.
Mestres
A floresta ensina
ao ermitão
os estratagemas do vivo:
simbiose de silêncio e ruído
no estrabismo do esquecido.
O deserto ensina
ao anacoreta
despojar-se no desprovido,
até o nu é despido
ao coagular-se em espreita.
A geleira ensina
ao penitente:
santidade é indecente
se expirar é estranheza
e respirar, incerteza
parida no espanto.
Rosarium philosophorum
Da mística rosa
A fonte é o seu existir,
Ousar acontecer,
A ausência
De enxame, musgo,
Pulsar da seiva,
Fluxo desprovido de acontecimento
Que não ir além
Do eterno fato
De ser a rosa.
Ancestral
Antiga é a fala,
Mais antigo o sopro
Desnutrindo o nada
Num mundo todo oco.
Antiga é a dança,
Mais antigo, o movimento,
Removendo o que a estanca
Num fora que é dentro.
Antiga é a música,
Mais antigo, o ruído,
Seiva acústica
Do silêncio e do sentido.
Antiga é a memória,
Mais antigo, o esquecimento,
Cego que só olha
Transparência do vento.
Tempo
Homens de artérias obstruídas
Andam pelas ruas
Esmagadas pelo tempo.
Não sabem mais tecer
Nem transmutar metais.
Estão pobres, opacos,
Desmentem seu destino
Com inepta habilidade.
Curvam-se nas esquinas,
Roubam doces,
Aguardam ventos, tormentas
Como se o inóspito
Não os desfigurasse.
Estão fartos, estão secos,
Comemoram
Vendas, lucros
Como se a poesia corroesse
Suas entranhas.
Percorrem ruas
Sem nome, sem data,
Não raro sofrendo
Algum tipo de atropelamento.
Os guardas de trânsito
Limitam-se a abanar
Suas cabeças
E seguem solícitos
Sua incansável
Peregrinação
Na teia dos ritos.
*Poemas do livro “A rosa mística”, Editora Penalux, 2023.