Viatchesláv Kupriyánov nasceu a 23 de dezembro de 1939, em Novosibirsk, na Sibéria. Radicado em Moscou desde a década de 60, formou-se no Instituto de Línguas Estrangerias. Traduziu obras importantes, sobretudo do poeta alemão Rainer Maria Rilke. Com muitas antologias publicadas e prêmios recebidos, Kurpriyánov é estudado e apreciado em vários países do mundo, como na Alemanha, onde ele possui um percurso notável. Além disso, é um artista muito ativo. Em 1988, por exemplo, organizou o primeiro festival de poetas independentes da Sibéria.
DESPEDIDAS DO POETA
eis o poeta
que finalmente se tornou poeta
eis o rosto do poeta
que finalmente
conseguiu sua expressão
eis as flores
eis as mãos
no peito do poeta
eis que vão
atrás do poeta
os poetas Tang
os poetas-carpideira
alguns poetas não reconhecidos
de algumas escolas
a escola de Mileto
a escola do Lago
a escola da Maledicência
alguns amigos
que reconsideram a lembrança
de como beberam com o poeta
a viúva do poeta
relembrando
que poderia ter sido a esposa do poeta
algumas mulheres
repensando
que o poderiam ter sido
alguns inimigos
especulando
como serão chamados
eis as aves filhotes do poeta
eis o povo criador da fala
perguntando
de quem ir atrás agora
eis o poeta
na pose
digna de um poeta
eis os que estão diante dele
na pose
de quem está diante dele
eis a terra
digna
do que estão nela
eis a estátua do poeta
na pose
digna de uma estátua
eis as aves filhotes do poeta
eis a terra
eis o povo
eis o poeta
O ROSTO
Em meu rosto
juntei todos os rostos
de quem amo
Quem vai dizer
que eu
sou feio
A CASA
É bom ser uma casa
para o coração único
que não se quer
deixar
É bom ser uma escada
para as crianças
que um dia sombrio
querem subir até o sol
É bom ser um porta
para quem quer entrar
ranger um pouco
mas abrir-se
E a janela
onde a luz jamais se apaga
para todos os que pensam
que já é tarde demais
LUMINESCÊNCIA
À espera de uma ideia incomum
que transfigure o mundo inteiro
revolves intensamente
ideias comuns
que não transfiguram mundo algum
veja como de ti se afugentam:
já está fumegando
de superaquecimento
pareces estar no rumo certo
já vai brotar de ti uma chama
claro, se aguentares a incandescência
de uma ideia incomum
ainda não sabes qual ideia é essa
mas já pressentes o aparecimento
luminescências:
nos olhos de acende um novo sol
tu, cego entre videntes,
tu, queimando até as cinzas
certo
de transfigurar o mundo
CANÇÃO DE NINAR
Dorme
em teu sono
por teu coração
passará imperceptível
a noite
Levando consigo
as sombras matutinas da hesitação
os pergaminhos das mágoas diurnas
os flocos da angústia noturna
De manhã
haverá de novo luz
em teu coração
Poderás de novo
duvidar
do mundo
O OÁSIS DO TEMPO
Nos espaços desertos
o oásis do tempo
é a fonte clara
da inspiração
nela
espelhamo-nos
bebemos
o que
vemos
para ter forças
de ir
lá
onde não há o que ver
*
Jamais o céu
vai se espelhar
num prato
de sopa
*Poemas do livro “luminescência – Antologia Poética”, editora Kalinka, 2016.
Tradução de Aurora Fornoni Bernardini