Bruna Beber Franco Alexandrino de Lima nasceu em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, no dia 5 de março de 1984. Poeta, escritora, artista visual, compositora, tradutora e pesquisadora brasileira, é uma das autoras mais reconhecidas do país atualmente, marcando presença nos principais eventos literários do Brasil e no exterior. Seus poemas, reconhecidos entre os mais importantes de sua geração, já foram publicados em revistas e antologias internacionais. Radicada em São Paulo desde 2007, Bruna publicou 8 livros até o momento.

a grande alegria dos homens de números

tão queridos
os sofás

mais ainda as cadeiras
de balanço

é tanta palavra
no mundo tanto som

não entendo por que
tanta grade também

estou triste
até passar

uma correria
de crianças.

5. a violência

vontade constate
de dizer te quero tanto
dela me distraio

mas você me abraça
e de repente todo
o mundo não tem
membros superiores

e então me beija
eu poderia matar
todas as plantas
tenho muito ar

até que sinto
na ponta dos dedos
a coragem de dizê-la.

2. o açougue

a ratoeira e o vinho
doce de garrafão
na barriga

as cascas
de banana no joelho
chego antes

da flecha do correio
elegante do caminhão
baú com muitas flores

uma plateia de solas
antiderrapantes rodopia
nas moléculas do ar

e ri da pintura borrada
de sorriso permanente
em meu rosto

não é todo dia
que voltamos
a ter 13 anos.

3. a monga no circo

quando perderes
os para-choques

deixa que cala
toda a roupa

te rebaterás
em dúvidas e lírios

ao ver-te puro e cheio
de urgências

sentirás alegre
preguiça

de toda
a gente

tão desnecessária
toda a gente.

11. o mutismo

a corda da distância
tem tamanho infinito

inventamos pois
o pé

e o lenço de enxugar
lágrimas antigas

vou me pintar
disposto

na costura
de novas histórias

mas comovido
em segredo

vivo de anotar
no caderninho.

romance em doze linhas

quanto falta pra gente se ver hoje
quanto falta pra gente se ver logo
quanto falta pra gente se ver todo dia
quanto falta pra gente se ver pra sempre
quanto falta pra gente se ver dia sim dia não
quanto falta pra gente se ver às vezes
quanto falta pra gente se ver cada vez menos
quanto falta pra gente não querer se ver
quanto falta pra gente não querer se ver nunca mais
quanto falta pra gente se ver e fingiu que não se viu
quanto falta pra gente se ver e não se reconhecer
quanto falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu.

*Poemas do livro “Rua da Padaria”, Editora Record, 2013.