Edouard Valdman nasceu em Nice, França, no dia 29 de dezembro de 1937 . Poeta e crítico literário, literatura, direito e ciência política. Foi um dos líderes do movimento de Maio de 68, no Palácio da Justiça, ao lado de Henri Leclerc, com quem fundou o Movimento de Ação Judicial. Em 1971, ele representou a Liga dos Direitos Humanos em Atenas no julgamento de Riggas Ferraios contra a ditadura dos coronéis. Neste período conheceu Gilles Deleuze e Michel Foucault, com quem fundou o GIP (Grupo de Informação Prisional). Junto com Pierre-Jean Rémy e Marie Cardinal, ele criou a seção de Poesia na União dos Escritores de Língua Francesa, em 1976.
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Se eu devesse redizer minhas febres
Eu falaria do tempo da nudez
onde tudo era inocência
harmonia
Do tempo
onde nós estaríamos em comunhão
divina com a Terra
Eu falaria da duna
cuja superfície é lisa
como era
então a nossa fronte.
*
Eu falaria dessas ondas que vão rebentar
Sobre o ocidente e que o destruirão
porque ele acreditou na violência
Daqueles que subirão os degraus de nossos templos
incendiados
que se sentarão nos escombros…
Eu falaria daqueles em que habita a miséria
e que não pediam mais que um canto de céu,
que não pediam mais que um canto de luz
e que nós assassinamos.
Eu falaria daqueles que amavam apenas a terra,
as árvores, o sol,
e que nós exploramos
desses que dormem à sombra da crueldade
Eu falaria desses que nos gritaram
a verdade e que nos exilamos
Eu falaria dos suplicados da sociedade
desses que partiram desesperados
porque matamos o espírito
*
Eu falaria do povo
de seu labor, de sua lenta marcha
para a liberdade
Eu falaria do silêncio do povo
e de seus admirável labor malgrado
apesar dos golpes,
a pesar das feridas
na espera infinita do dia
que virá
Eu falaria do silêncio do povo
dos ídolos sempre ressuscitados
e do trabalho sempre roubado
e de sua admirável paciência
Eu falaria do silêncio do povo
impresso d’uma dignidade
da qual nenhum golpe
nenhum desprezo jamais
poderá calar.
*
Eu falaria do sofrer da criação
quando ela é trabalho subterrâneo
na espera incerta do renovar
Eu falaria da noite do
poeta
quando ele não é mais que
solidão
na espera incerta da palavra
Eu falaria do susto do poeta quando
ele não é mais que noite
na espera incerta do dia
*Poemas do livro “Os Poemas da Ausência”, Editora Nonoar, 2013.
Tradução de Andrei Mikhail