Fernando Charry Lara, nasceu em Bogotá, Colômbia, a 14 de setembro de 1920. Poeta, professor e advogado, foi diretor da Rádio difusora Nacional da Colômbia e da extensão cultural da Universidade Nacional da Colômbia.
Fundou, com Mario Rivero y Aurélio Arturo, a revista “Golpe de Dados”, em 1972, publicação importante para a historia da poesia colombiana. Fez parte da chamada “Geração Mito”, agrupada ao redor do poeta Jorge Gaitán Durán. Sua obra se caracteriza pela brevidade, a lucidez crítica e a intensidade expressiva.  Sus poemas aparecem em diversas antologias nacionais e hispano-americanas.

TRISTEZA DO OESTE

Que tristeza é o Oeste, de cores tão claras,
Ausentes, ao abrigo de todo perdido:
É uma terra parda, sem forma e em silêncio.
Não se sabe se rios as cruzam sonolentos.

Tampouco sei  de vales, de cansados caminhos.
Sei de nuvens, seu céu, essas brancas espumas.
Não há nada, apenas crescem os sonhos do esquecimento
Sobre o impenetrável coração da paisagem.

Quisera com meus braços segurar o belo Oeste
Sua fugitiva luz, sua dourada tristeza
Que resplandece, pura, no ar vazio,
Com um fulgor monótono de planície sedenta.

Os homens do crepúsculo que sonham horizontes
Vendo o ascendido tremor dos ocasos,
Como um bosque de grandes sombras desabitadas
Vêm deslizar na noite da terra do Oeste.

AS TARDES

Oh, pálido reflexo das tardes
Suspensas no ar, adormecidas
Com um vaga cor, com um tremor
Sobre a alma que sonha distraída.

E revive na atmosfera um perfume
Lânguido e distante, destruído
Por uma fúria triste, pela chuva
Que flui da desolação para o esquecido.

Ao coração e ao ar não perguntam,
Serenos ao azul, iluminados,
Porque na tarde calam seu delírio.
Nada à sua solidão está aproximado.

Sobre o rosto que cala pensativo,
Oh, trêmula paisagem das tardes.

BRANCA TACITURA

Que dia de silêncio apaixonado
Vive em meu gesto vago e em minha frente.
Que dia de nostalgia suavemente
Soluça amor ao coração cansado.

Alta, doce, distante, está calado
Teu nome em minha voz fiel. Mas presente
Sua turva luz a minha solidão sente
Em tudo que existe e já foi sonhado.

Pela tarde vagando, voluptuoso,
De horizontes sem fim, a distância
Me envolve em teu recordar silencioso:

Claro cabelos, corpos, olhos distantes,
Pálidos ombros. Oh, se neste dia
Tivesse a tua mão entre a minhas.

COMO A ONDA

Com chegada da espuma até a praia triste,
Escura onda de esplendor lunar estendido,
Tu cruzas, tu cruzas
Com remoto ardor despertando meu beijo
No mar delirante da noite.

Sempre em fuga, cheia de reflexos,
Reconstruindo às cegas o amargo e o distante,
Ou recostada um pouco para a luz dos crepúsculos,
Assim melhor desenho a melancolia do seu retrato:
Junto ao piano, para a janela,
De irrespiráveis sonhos, a música de súbito se cala,
Esperando uma voz que chega como o eco para as zonas
Desertas.

Noturna então,
Como a pele,
Como o profundo dos beijos,
Como a noite das árvores,
Como o amor seria junto aos seus cabelos.

Logo, sem sonhar,
Espuma silenciosa traz a sombra,
Entre o rumor apagado dos passos,
Desnuda foges, pálida onda,
não se reconhece.

*Poemas do livro “Poesia Reunida”, Editorial Pré-Textos, 2003.
Tradução de Igor Calazans para o Recanto do Poeta.com