Henrique Alberto de Medeiros Filho nasceu em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Poeta, escritor, jornalista e publicitário, é Presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, desde 2023.  Partícipe da cena artística e cultural principalmente do Brasil Central, é autor de livros de poemas, contos, crônicas, outros escritos e biografia; faz parte, ainda, de diversas antologias e coletâneas. Conquistou diversas premiações como criativo no mercado e também na área de cultura; entre elas, a de Publicitário Latino-americano no Festival Mundial de Publicidade de Gramado, por duas vezes.

mutações

lavo as mãos compulsivamente
quero me limpar
das sujeiras do mundo
mas ele é mais impuro
que as minhas mãos
mentalizo o branco-alvo
quero me livrar
dos pensamentos dos homens
seus arco-íris
sempre mutam
para poças de sangue
sigo caminhos que decifro
no voo dos pássaros
nas estrelas que despencam
nas barbatanas das águas
em vulcões submersos
nas marcas das patas
nos cometas que riscam
mas são pontos de interrogação

escrito ou dito

começou
do nada
como tudo
nada
ou tudo
já foi escrito
ou dito
ou não
pode apenas não estar
no mesmo pedaço de papel
na mesma saliva de língua
na mesma caixa de pensar
ninguém nasce para ganhar
até quem pensa
que está ganhando
perde
tanta na vitória
como na derrota
no nada ou no tudo

cármicas

egos e sexos
desejos e luxúrias
fluidos vitais
ápice de hormônios
guerra de corpos
frequência das forças
sentimentos expandem
lubricidade sexualismo sexodução
carnalidade molecular
circuito de forças
identidades compartilhadas
alimentos recípocro
explosão de carências
satisfação de motores
vibração positiva negativa
vírus de energia
sexoafeto multiangular
mútuas potências suscetíveis
êxtase das amarras cármicas
transferência nas memórias
corpo tronco mente
do que eterniza o recorrer
pensa comove enraivece
reconhecimentos vitais
informação corpórea
do que se fixa nas células
reminiscência do corpo
cárcere de impulsos trocados

gangorras

vitórias derrotei
derrotas venci
corpo e mente
estão cansados
equívocos
firmamento
animais humanos
racionais
irracionais
no limbo do futuro
descubro passado
no presente que parece
despedida do que
não quero mais
desprega
desprende
das minhas mãos
da minha mesmice
do esquadrinhas
se alastra
a gente tem de ter
direito a algo
mas ondas fazem
gangorras d’água

*Poemas do livro “Palavras correndo atrás de textos”, Letra Livre Editora, 2016.