Benjamin S. Lerner nasceu a 4 de fevereiro de 1979, em Topeka, Kansas, Estados Unidos. Poeta, romancista, ensaísta e crítico, foi finalista do Prêmio Pulitzer de Ficção, finalista do National Book Award, finalista do National Book Critics Circle Award. Em 2011, ganhou o prêmio de poesia e tradução “Preis der Stadt Münster für internationale Poesie”, na Alemanha, se tornando o primeiro americano a recebê-lo. Lerner leciona no Brooklyn College, onde foi nomeado Distinguished Professor of English, em 2016.

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Mais pra vitamina do que pra antipsicótico
Desespero coletivo em enunciados dóceis
O sonho em que é estonada a pele
De jeans, passar sua mão pelos cabelos
De um amigo imaginário, levantar da cama,
Vestir-se, retornar chamadas, tudo sem
Acordar, a súbita suspeita de que os dentes
Na sua boca não são os seus, que
Dirá as palavras

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Aplausos. Fale francamente. Deixe as mãos
Na mesa. Não se refugie nos procedimentos
Não espere um desastre impressionante
Para olhar nos olhos do seu irmão e falar
De amor. Não se engane: a disjunção
A disjunção permanece. Não hesite
Em cortar os versos mais belos em nome
Da forma. O pão das palavras. Procure por mim
Na beira dos gêneros. Vou pra lá a pé

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Renúncias escalonadas. Fronteira imprecisa entre
A vitrine do museu e a da lojinha. A morte de um
Amigo me abre. De repente o clima
Foi escrito por Tolstói, que tinha mãos gigantes
Ondas ressoantes. É difícil não levar
Quando seu olho está no vértice de um cone
O outono pro lado pessoal. Meu passado se torna
De versos que se estendem a cada folha
Citável em todos os momentos: chuva, despedida

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A física me ocorreu durante a queda
Através da chuva que não se movia. Acordei
Antes de chegar ao chão como virga
E descobri que Ari  tinha partido. Raízes esmagadas
Só porque não havia chão
Permitem que palavras tremam na respiração
Em si. Não há como ler isto
Uma vez, e isto é amor, ou em voz alta, e isto
Quebra-mares lembram nuvens alinhadas

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Mas não como você entende isso, não sem
Surgir de superfícies refletoras encarregada
Diferente dos modos usuais. Pequenos contrastes
Da tarefa da redescrição total
Para começar o esquecimento, ondulação suave
Sobre o lago artificial. Planejei um trabalho
Com atrasos adequados, todos os sinais parecem
Emitidos de um alto-falante. Espera, eu não estava
Contínuo nas estações, chuva

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E isto é elegia. Sei que sou um efeito
Este é o concreto onde meu amigo foi enterrado
Sentido das coisas que levo pro pessoal
Ondulação suave sobre o corpo social
Sei que não posso tocá-la com a mão
Que tocou em dinheiro, quer dizer sem
Várias formas de fecho alternativas
Ironia, agora aquecida e capaz de
Decair nas cordas enquanto descemos

*Poemas do livro “Percurso Livre Médio”, Edições Jabuticaba, 2020.
Tradução Maria Cecília Brandi