Janice Caiafa nasceu no Rio de Janeiro, em 1958. É mestre em Antropologia Social pelo PPGAS do Museu Nacional da UFRJ e doutora em Antropologia pela Cornell University. Foi pesquisadora convidada do Centre de Sociologie de l’Innovation da École Nationale Supérieure des Mines de Paris com Bolsa Estágio Sênior da CAPES. Realizou pesquisa de Pós-Doutorado, com apoio da CAPES e da Fundação Fulbright, no Departamento de Antropologia da City University of New York. É Professora Titular da UFRJ, professora e pesquisadora do PPGCOM da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisadora visitante da UERJ. É poeta e pesquisadora sênior do CNPq. É pesquisadora do Grupo de Pesquisa Comunicação, Arte e Redes Sociotécnicas (CNPq/FCS/UERJ) e coordenadora do Grupo de Estudos da Cidade e da Comunicação (CNPq/ECO/UFRJ).  Em seus cursos e textos trata principalmente dos seguintes temas: processos comunicativos no espaço urbano; transporte coletivo como agente de desagregação nas cidades; inovação tecnológica e processos de rede no ambiente dos metrôs; a etnografia na tradição antropológica e no campo da comunicação; o problema da subjetividade no contexto dos media e na experiência urbana.

Está na hora da onça beber água

ele vai com sede ao pote
ela vai com alma, a pintada,
a mansa, com a calma
da fera que espreita, a bela.
ela vai com pele de onça, a ponta
da pata macia na terra, ela
alta, básica, série, ela salta
vai além do bote, ela morde
ela sabe.

Calunga

O que é isso? É um calunga.
Calunga é coisa bem pequena,
é uma coisinha qualquer, é
um deus negrinho e valente,
um saci ainda menino,
um camundongo, um peixinho,
qualquer ratinho que passe
e vá se esconder. Uma medalhinha
na gaveta do avô. O que é isso?
É um calunga é o quê?
É esse homenzinho corcunda
ou a medalhinha em si?
Na gaveta secreta o calunga
é um talismã, do jeito mesmo
do avô guardar as coisas: antigo,
especial, com cheiro de benjoim.
O calunga é mais um mistério
das idades, da curiosidade e do segredo
no mimo da pequenez das coisas
e que perdura na saudade.

Luz da Lua

Que puxou com seu ímã
o balanço do parque
como faz com a maré.
Quanto mais luz havia
mais alto ele ia
e nós olhando para ela
mais também o corpo
subia, eu no êxtase
de guria, com ele,
nós que tanto voamos
em prazeres mais complexos
que a lua mesmo não ignora.

até os dentes

Do prego ao clipe
revolve-me a adaga
eu ando armada
porque é preciso.

e nada vale o máximo do brilho
que o canivete atinge.

*Poemas do livro “Neve Rubra”, Sette Letras, 1992.