Drago Stambuk nasceu a 20 de setembro de 1950, em Selca, na Croácia. Médico, Poeta e Diplomata, desde 2011 é o Embaixador de seu país no Brasil, Colômbia e Venezuela. Como poeta é considerado um dos mais importantes autores croatas de sua geração, tendo influenciando uma nova tendência neoplatônica, que veio a ser conhecida como “insularismo” na Croácia.

PAREDE DE POESIA

Todos os painéis da parede virarão uma lápide,
e, nas bordas dela, os amigos vão encravar
ramos de flores domésticas, enquanto o rugido da ventania,
passando pela praça elogiaria com adoração
o seu dom e a sua habilidade com as palavras.
Vós que foram tocados pelas Musas e Deuses do Parnaso
vos revirastes para baixo na sepultura, vos erguestes
e eretos passastes o olho para o mar aberto, para
o antigo mar que tritura vossa alma e eleva-a,
acrescentando as informações derradeiras, agora.

RIO DE JANEIRO

Crescimento ou decadência,
canto ou grito.

Umidade ou dispneia,
melancolia ou preguiça.

Fermentação mineral
parada no esforço da podridão.

Coberta verde carnuda para as batalha concluídas
e paisagens torturadas.

Cidades são tuas, terra do Cruzeiro do Sul,
como uma planta que sobrevive e cresce,

apesar de tudo, nos deslizamentos de terra íngreme,
com o regar – mas também sem ele.

TRIÁSSICO DO PIRATA

Brinco de ouro
e uma perna de madeira.
Órbita esvaziada.

No mar, tudo desmoronou.

*

Deixe que a terra macia
do fim do mundo e do início
da morte esperta rasgue
os sapatos e descasque os pés.
Está comendo a pele das solas
e com sangue esguicha os vestígios,
redesenha meu caminho final.

*

Língua sóbria,
descarte.

Seu cinto
leva ao túmulo

e correntes pesadas
na entrada da porta do mundo,
deixa.

A doença,
nossa compreensão do destino,
afundamento na lama,
caída na escuridão.

O povo harruachi,
a criança dos seres primordiais.

Você é mar celestial,
última benção da terra.

A mesma onda que mata
é a que vai te salvar.

*Poemas retirados do livro “Céu no poço”, ediPUCRS, 2014.