Mário Alex Rosa nasceu em São João Del Rei, Minas Gerais. Poeta, artista plástico e crítico literário, é formado em História, Mestre e Doutor em Literatura Brasileira pela USP. Também é editor (revistas, edições tipográficas) e organizador de exposições de artes visuais. Atualmente vive em Belo Horizonte.
Freio de Mão
Escrever para trás,
com o gatilho disparado
no ar. Da falha que fica entre
a metade e a outra, sobra o desastre
do amor que acelera com o freio de mão.
Com o freio de mão o coração para de bater
no outro e sozinho bate contra o muro.
Fuga
Não acho a vida menor.
Vida sem cerimônia, sem arsênico.
Procuro uma hora dentro da outra,
noite dentro da noite, varando o corpo.
Procuro o catre da sobra.
De ti a fuga não sai. Dos subterrâneos
da memória sobe uma poeira encardida.
O silêncio da noite te espera. Não grites.
Toda dor é solitária. Tua fuga também.
Alone
Do lado de dentro, fora da órbita,
engulo a raiva e a consciência dela.
O esforço do ante-soco diante do espelho
que nada fala, só devolve a minha imagem.
Não adiante sondar o passado,
nem a paisagem lá fora, aberta em sol.
Deste lado, ruínas de engano descem pelo maxilar
e vão até onde a mão não alcança.
Ele só bate
Arranhar o silêncio dentro da boca,
devorar a própria palavra até você desaparecer.
Não adianta tocar o coração. Ele só bate.
Esquive-se das manhãs, atravesse logo para a tarde,
a mais próxima da noite, e engate rápido para a toca,
é o que te espera. Não tente de novo, ele só bate.
Via estreita
Riscos por toda parte
atingem o medo de perder
o que por si já é perda. Retomar
à raiva diária, à reza que não pega, nada
segrega o amor exposto, hipótese inválida
da dor cansada de pensar numa via estreita.
*Poemas do livro “Via Férrea”, Cosac Naify, 2013.