Charles Bernstein nasceu no dia 4 de abril de 1950, em Nova Iorque, Estados Unidos. Poeta, crítico, editor e professor, é um dos mais importantes membros da poesia “LANGUAGE”, editor da antiga revista L=A=N=G=U=A=G=E e editor do website brasileiro “Sibila”. Atualmente, é professor na Universidade da Pensilvânia, onde iniciou o projeto “PennSound”, maior arquivo de leituras de poetas do mundo todo e do pioneiro Electronic Poetry Center. Publicou seu primeiro livro, Asylums, em 1975.  Nas últimas décadas publicou dezenas de livros e antologias. No Brasil, publicou o livro Histórias da guerra em 2008.

Neste mundo agitado

Há pouco tempo, ou sonhei,
Talvez compus, súbito perdido
A trilha do trem no abracadabra
Dos dias dissipados; não, se fizer
A curva, dobrar a esquina, se atacá-la
De todos os lados, os três de uma vez, ou quicar a bola
Nos olhos, como pus, de todas as cartomantes –
Bem, como podem ver, não tenho
Nada na manga, ou reparem; ainda
A pedra dura por vezes fura quando a
Água bate, a fio. Quanto mais longa se vai
Numa direção, tanto mais longe se impõe
Seguir adiante antes que a volta
Termine de todo indivisível.

Toca aqui deixa que eu toco sozinho

Valores sabem a banha sobre a mesa derretendo
antes da memória da banha sobre a mesa
derretendo: o contorno de uma sombra de
barba feito de um relinchar de descavalo
e suspiro arritmado de um toca-realejo
que espia por cima da torre inclinada formalmente conhecida
como Pisa. Pegue uma cadeira de balanço e insira
nela uma sequência, ate-a com ardência
de fuligem & fumaça & querosene, depois
do nada soque a cara dos cartéis disparatados
algemados ao carro-freio de reproches
irrestituíveis. Um centavo por um
paraíso, cinco por uma volta,
vinte e cinco por cinquenta de dez, um dólar
pelas cotas…

Aprendizado a distância

Pêgo onde as
peripalpitações
se guardam, como num liquidificador
precipitando-se sobre pessoas
desavindas por refração
onde o ir vai re-
caindo, colinas
emborcado arcos
sua moenda de marés
sobre certas cordas
ocultas
nos tons da fala
do franzir de cortes
negociados em tais
imprecações sussurradas

Portajan ágata

1  “Odeio quando me culpa Pelas
2  coisas erradas que faço” Uma pêra
3  iria para o céu Tão fácil quanto
4  uma folha de grama Cantaria sua
5  canção. Mas o aviso, ela recebe
6  O Balanço resiste à turba Na
7  captura há Mais para pagar Do que circuitos
8  numa tulha. Você sabe aquela vez,
9  anos atrás Se acaso divide o vivido. O
10  blefe caiu Você se inquietou, eu fechei a cara

11  Mas onde os ontens Nos
12  torpores mofados dos Amanhãs? O verde resvala
13  pela cerca o Vermelho conhece a porta
14  A chave é mais pesada Quando o
15  ferrolho bate asas. Um garoto astuto um
16  tolo se torna Quando os modos resvalam &
17  furor nenhum. Largue o cueiro,
18  aporte lenha à porta Você ainda vai ser
19  um modelo. Quando anelos revelam-se servos.

Não use acasos

Perto de erguer
Brilho com fimbrias
Nuvens, o que é, mas
Tempo desprovido
Usos desdobrados
Mais baixo o segundo
Gravidade para permitir, mas
Lentamente, como se
Para trás, caindo
Dobrado

O poeta de outro planeta

Então guiavam
& noite
tornando-se dia tornou-se

faca cega
e cinza &
toda afiada

o ponto se ascendeu ao
campo do
sublime e

limão. E sem propósito
torna-se indolor
o substrato genético

que amaldiçoa remorsos
e dá adeus
à anônima

dispersão. Uma economia
geral como se
a pedir que

metade em pão
não fosse
tão bom quanto

nenhum pão (metade
mentira não
tão bom quanto

mentira). Descansado
sem descanso, ansioso
sem ansiedade. Tantos

medos, nenhum
real. Há uma
visão

nunca uma
aparição.

*Poemas do livro “História da Guerra – Poemas e Ensaios”, Martins Torres, 2008.
Traduções de Régis Bonvicino e Maria do Carmo Zanini