Vinicius de Moraes: um gênio compreendido

Vinicius conseguiu simplificar a raiz do erudito à cultura popular

Geralmente as pessoas ligam a palavra gênio àqueles sábios que são capazes de produzir e, principalmente, entender todas as questões. Singelamente, acredito que os mais sábios não são aqueles que entendem tudo, mas sim os que se fazem ser facilmente entendidos. Isso é o que podemos considerar de Vinicius de Moraes: um gênio compreendido.

O “Poetinha” (o diminutivo, logicamente, é pelo sentido carinhoso da palavra) viveu 66 anos de uma passagem que, se fosse contada pela intensidade, seria milenar. Vinicius de Moraes foi, absolutamente, o artista que melhor conseguiu simplificar a raiz do erudito, tornando o culto mais tangível ao até então incipiente olhar popular, ao mesmo tempo que transformava, aos olhos lúdicos, a mais complexa reflexão dos cabais sentimentos humanos, pressupostos aos anseios intelectuais.

Vinicius carregou por todo o tempo uma tristeza, uma melancolia, própria dos grandes gênios da humanidade, que não se conformam em presenciar tamanho desperdício de vida da nossa raça. Para abster-se buscou refúgios nos amigos, nos uísques, nos cigarros e nas mulheres – quantas mulheres! Muitas de suas obras são tenebrosas, obscuras e profundamente insólitas ao clã poético de literatura, no entanto, por justamente reconhecer a cavidade do breu, soube como ninguém pintar as cores dos mais variados sabores da vida, principalmente ao descrever amor. Vinícius deu novo tom à paixão.

O amor de Vinícius de Moraes é o amor que todos nós queremos sentir um dia. É o sentimento mais aguçado e próprio de quem enxergou a vida como um presente. Suas letras e composições sempre falam de amor, não importa o teor ou a ocasião da obra. Vinícius bebeu a vida toda com sede, bebeu toda a sua vida com gosto.

“Se todos fossem no mundo iguais a você…”

Soneto da Fidelidade (Vinícius de Moraes – 1960)

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

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