Marcelo Ariel nasceu em Santos, São Paulo, no ano de 1968. Poeta, ensaísta e teatrólogo, viveu por 40 anos em Cubatão (SP) e hoje vive em São Paulo. Entre seus diversos livros, destacam-se os recentes Ou o silêncio contínuo: poesia reunida 2007-2019 (Kotter, 2020), que conquistou o segundo lugar no prêmio Biblioteca Nacional, Nascer é um incêndio ao contrário (Kotter, 2020), Subir pelo inferno, descer pelo céu (Kotter, 2021), As três Marias no túmulo de Jan Van Eyck (Círculo de Poemas, 2022), Escudos (Arte & Letra, 2023), 22 clareiras e 1 abismo (Letra Selvagem, 2023) e Afastar-se para perto (Reformatório, 2024).
Espinosa para crianças
Não sei dizer onde termina
o meu corpo
e começa a água
disse a água-viva
para a estrela-do-mar
e eu não sei dizer
como estou parada e em movimento
disse a estrela-do-mar
para o coral
nós somos a água
disse a água
para a estrela cadente
que havia caído
no mar
Quando eu era
o céu
negro
antes de ser
o céu
azul
antes
de ser
este céu
transparente
eu
era
você
Antiprece
dissipa a névoa porque nenhuma palavra consegue entrar,
você foi um peixe nadando dentro de um pássaro, dos pássaros,
o paraíso que esteve nos olhos de quem o viu
, floresta em volta do teatro,
anjo do lençol freático
procurando o curso dos silêncios
cancelando a necessidade de haver pessoas
em troca da imanência de todas as árvores que andam
, agora vai começar o deus
na fotossíntese do caracol
a fotossíntese no lugar do orgasmos
ou seja a morte
Porque o corpo
não nos abandona
na hibernação curta
do sonho
que triunfa
para valer
em nossa morte
pensamos
que ele é divino
mas de dentro
das vísceras
onde se esconde
o anjo
o gato
e o menino
ele sabe
a verdade
*Poemas do livro “A Água Veio do Sol, Disse o Breu”, Círculo de Fogo, 2024.