Mauro Oddo Nogueira, nascido em Niterói-RJ, em dezembro de 1961, é Poeta, engenheiro, administrador, Mestre e Doutor em engenharia. Possui livros em todas essas áreas, mas é na poesia sua principal expressão literária. Como ativista cultural é um dos idealizadores e produtores do Movimento LumiARTE, em Lumiar, Rio de Janeiro.

SUA CASA

Venha! Pode entrar porque é sua esta casa.
Licença não peça, na porta não bata,
Não olhe pra trás, porque a vida não atrasa.

Respire, sorria, contemple e se enfeite,
Dance um flamenco com as costas para a rua.
Se aposse de tudo e em sua cama se deite.

Bem-vinda, flor nua. Bem-vinda, flor prata.

E agora resgata esta casa que é sua.


PALAVRAS?

A palavra trava e escapa, a palavra falha.
A palavra voa e flutua na poalha.
O ar se perde, esvai e a palavra não se atreve.
Como dizer o que a palavra não descreve?
Com o olhar, quem sabe, fosse possível descrever
O que em meu corpo não é dúvida, mas saber,
E em minha alma se repete e redescobre?
Mas também ele, mesmo que a força tresdobre,
Capaz não é de expulsar, de arrancar do peito,
O suspiro cativo que do amor é preito.
Quem sabe a mão seja bastante para exprimir,
Ao tocar seu corpo e ao sua pele comprimir,
Essa louca angústia de contigo partilhar
Um gesto, sorriso, um desejo, um sonho, um olhar?
Não! Creio que somente todos juntos: a pele,
O olho, o cheiro, o toque e o mais que se revele
No encontro mundo, sem palavras, de dois seres
Que com o outro sonham viver os seus viveres.


PARTILHA

Partilhei mil coisas pela vida afora,
mas partilhar a alma, como faço agora,
é saber-me flor, mas sentir-me flora.


*Poemas retirados do livro “pó é, mas…”, editora Itapuca, 2021.