Paul Géraldy, pseudônimo de Paul Lefévre, nasceu no dia 6 de março de 1885, em Paris, França. Poeta e dramaturgo foi um dos mais aclamados representantes do romantismo francês em sua época. Intitulado de “o poeta das mulheres e das coisas do coração”, iniciou sua trajetória na poesia publicando dois livros: “Les Petites Ames” (As Pequenas Almas), em 1908, e “Toi et moi” (Eu e Você), em 1912,  que 20 anos mais tarde seria traduzido por Guilherme de Almeida.

Apesar da ótima crítica, Géraldy só veio a publicar novos poemas em 1960, com o livro “Vous et Moi” (Você e Eu), outro grande sucesso de crítica. Em linhas gerais, a obra de Géraldy apresenta cenas que vão dos monólogos aos diálogos; dos mais simples devaneios às impulsivas reações, comumente envolvidos na rotina de casais que convivem entre o amor próprio e a relação a dois. De forma singela, sutil, também não deixa de tocar em temas mais passionais, carnais e até eróticos. Paul Géraldy faleceu aos 97 anos, no dia 10 de março de 1983, em Neuilly-sur-Seine, na França.

 

DÚVIDA

Você diz: “Eu penso apenas
em você”.
Mas pensa em mim muito menos
que no amor.

E diz: “Meus olhos magoados
que vivem só de desejo
passam horas acordados
quando me deito”.
Mas sua alma é a mais satisfeita
do que louca.
Você pensa mais no beijo
que na boca.

Você não se inquieta. Tem
certeza de que este bem
é somente seu e meu.
Você gostaria mesmo
menos de mim, muito menos,
se eu não fosse seu?

MEDITAÇÃO

A gente começa a amar
por simples curiosidade,
por ter lido num olhar
certa possibilidade.

E como, no fundo, a gente
se quer muito bem,
ama quem ama, somente
pelo gosto igual que tem.

Depois, a gente começa
a repartir dor por dor.
E se habitua depressa
a trocar frases de amor.

E, sem pensar, vai falando
de novo as que já falou…
E então, continua amando
só porque já começou.

DUALISMO

Querida, explique-me por que é
que você diz: “MEU piano, MINHAS rosas”,
e: “SEUS livros, SEU cão”… por que é
que ouço você dizer até:
“com MEU dinheiro, só MEU, é
que eu quero comprar estas cousas”?

Mas o que é meu é seu também!
Por que estas palavras maldosas:
seu, meu, meu, seu? Por quê? Mas não!
Se você me quisesse bem,
diria: “Os livros, O cão”
e: “NOSSAS rosas”.

*Poemas do livro “EU E VOCÊ”, Companhia Editora Nacional, 1991.
Tradução de Guilherme de Almeida.