Nascido em 1987, Carlos Orfeu é natural de Queimados, Rio de Janeiro. O poeta tem seus textos publicados em importantes revistas literárias impressa e digitais veiculadas no país. Obras publicadas: Invisíveis Cotidianos, 2017, editora Literacidade; Nervura, 2019, editora Patuá; Invisíveis Cotidianos, edição ampliada 2020, editora Patuá, e Ramagem Pulmonar (2021) pela Editora Poesia Primata.

um esqueleto para cada manhã

em toda parte a casa da carne desmorona
em toda parte resquícios ruínas têmporas

em toda parte um esqueleto para cada manhã
contra o próprio fundamento de ser nada

fluxo e partida


maçãs na mesa

maçãs
na mesa

:apodrecem
os olhos do corpo

dentes
do fruto

abrem rastros
na pele
turva

abandonada
na estrutura
óssea da cadeira

miragem

para cada pálpebra suspensa no vazio
há um espelho que cintila a última aparência

guarda das tantas faces mutiladas
a miragem de ver-se como presença

vestir outra pele

vestir outra pele
não essa descascada
carcomida pela combustão
do exaspero

vestir outra pele
camada
e crisálida

chamar de casa
todas as coisas
indizíveis

até não ser mais
esse bicho tátil
sentido por outras peles

ser tantos corpos
inumanos
humanos

ser nada
e colisão

*poemas retirados do livro “Nervura”, editora Patuá, 2019.