Um dos grandes nomes da contracultura do país, o poeta paulista Claudio Willer faleceu nessa sexta-feira, 13 de janeiro. Aos 82 anos, ele vinha lutando contra um câncer na bexiga, mas seu estado agravou na última semana. Idealizador do Movimento Práxis da poesia paulistana, ao lado de Mário Chamie, Willer sempre foi uma voz de subversão à literatura clássica e erudita, colocando aspectos transgressores e rebeldes, influenciados pela Geração Beat, dos Estados Unidos, e o Surrealismo, criado por Guillaume Apollinaire, na França.

Além de poeta, Claudio Willer deixa uma importante obra literária entre traduções (Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Lautremón e Antonie Arnaud, por exemplo) e livros de crítica, teses e ensaios. Foi presidente da União Brasileira dos Escritores (UBE) durante quatro mandatos seguidos.

belo como as cores de um maremoto em um entardecer luminoso
belo como as vozes que saem das cavernas nas encostas das montanhas
belo como uma inesperada descoberta arqueológica após dias seguidos
percorrendo aquelas cavernas
belo como uma série de frases interrompidas, entrecortadas
por risos ou por soluços
belo como o susto que se leva ao entrar em uma silenciosa sala
de exposições de suas obras
belo como todos os registros de encontros da lucidez e da loucura
belo como os cataclismos relatados nas mitologias mais arcaicas
belo como um erro de ortoépia
belo como todos os encontros da singularidade e da pluralidade,
da unidade e do infinito
belo como nossas tardes e fins de tarde passados a ler poemas e contar histórias
belo como as mutações das cores no dorso de um lagarto gigante
belo como os antigos mapas de navegação e todos os relatos
daqueles antigos navegantes
belo como uma coleção de caleidoscópios e todas as imagens
geradas por esses caleidoscópios
belo como os matizes da memória
belo como as palavras sempre, aqui, agora – e todas as outras

*Poema “Contemplando a arte de Ken Kaneko”, de Claudio Willer