Nunzio Corso (acrescentaria o pré-nome “Gregory” depois) nasceu a 26 de março de 1930, em Nova Iorque, Estados Unidos. Poeta caçula da “Geração Beat”, é considerado o “quarto membro canônico” do movimento, ao lado de Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs.

Filho de uma família de imigrantes italianos, Corso, aos 9 anos, foi abandonado por sua mãe que retornou para Itália, vivendo maioria de sua infância em orfanatos e casas de adoção. Sua adolescência complicada inclui ainda uma temporada de vários meses em Tombs, a prisão municipal de Nova Iorque, por roubos. Aos 17 anos, foi condenado e mandado à Clinton State Prison por três anos. Foi justamente encarcerado, em 1947, que Gregory mergulhou na literatura através da biblioteca da prisão e começou a escrever seus primeiros poemas. Depois de ser liberado, em 1950, retornou à Nova Iorque e conheceu Allen Ginsberg em um bar na Greenwich Village. A amizade fez com que Corso entrasse na cena literária beat.

Corso morreu em Minnesota, Estados Unidos, no dia 17 de janeiro de 2001.

EU TENHO 25

.       Com um amor-loucura para Shelley

Chatterton Rimbaud
e o latido carente de minha juventude
indo de orelha a orelha:
EU ODEIO VELHOS POETAS!
Especialmente velhos poetas que se retraem
que consultam outros velhos poetas
que falam de sua juventude em sussurros,
dizendo: — eu fiz isso então
mas isso foi lá antes
isso foi antes —
Ah, eu aquietaria os homens velhos
diria a eles: — eu sou seu amigo
o que você foi uma vez, através de mim
você será novamente —
Então, à noite, na confiança de suas casas
arranquem suas línguas-desculpas
e roubem seus poemas

*Tradução: Marcos Freitas

PERIGO

Por causa de mim os narcóticos são —
Inútil o esforço de segurança
armando maneiras e modos de manter distância de mim;
não existe saída, só existe dentro,
e todos estão em perigo —

Inútil cerca o mundo com:
Cuidado. Não Ultrapase, Caveiraossoscruzados,
É Pericoloso Sporgersí —
Minha propriedade é o sofrimento!
Nenhuma cerca
Nenhum aviso por lá —

*Tradução: Marcos Freitas

O LAMENTO DA CAMA

1962

Certa vez muito tempo atrás
recebi um casal real
eu era firme era forte
e todos os dias as moças exultavam no meu asseio —

E agora
E agora habito um quarto úmido
com pernas bambas e costas curvas
e sobre mim dia e noite
um viciado ossudo urina e sonha —

*Tradução: Marcos Freitas

A DIFERENÇA ENTRE OS ZOOLÓGICOS

Fui para o Hotel Broog;
e foi lá que me imaginei cantando a Ave Maria
pra um bando de Duendes grisalhos de pele cor de madeira.
Acredito em gnomos, em pigmeus;
acredito em converter o bicho-papão,
trazer a Medusa para Kenneth;
pedir a Zeus um olho novo pra Polifemo;
e agradeci cada homem que já viveu,
agradeci a vida o mundo
pela quimera, a gárgula,
a esfinge, o grifo,
Rumpelstiltskin –
cantei a Ave Maria
para o Heap, o Groot,
o mugwump, Thoth,
o centauro, Pan;
Reuni-os todos no meu quarto no Broog,
o lobisomem, o vampiro, o Frankenstein
todos os monstro imagináveis
e cantei e cantei a Ave Maria –
O quarto tinha de se tornar insuportável!
Fui ao zoológico
e oh Deus obrigado o simples elefante.

*Tradução: Mateus Magalhães

TENHO SAUDADES DE MEUS QUERIDOS GATOS

Minhas mãos aquareláveis agora estão sem gatos
Sentado aqui sozinho no breu
minha cabeça em forma de janela está curvada com tristes cortinas
Estou sem gatos sem vida quase
atrás de mim meu último gato enforcado na parede
morto por minha mão bêbada inchada
E em todas outras paredes do sotão à adega
minha triste vida de gatos enforcados

*Tradução: Matheus Carrera Massabki

HINO DO MAR

Minha mãe odeia meu mar
meu mar devo afirmar.
Eu a avisei contra isso
era o mínimo a ser dito.
Dois anos demorou
mas o mar a devorou.
Na beira do mar achei uma estranha
mas linda comida;
Perguntei ao mar se podia comer
e sim eu podia.
–Oh, mar, que peixe
macio e doce este é?–
–De tua mãe o pé–foi a resposta

*Tradução: Matheus Carrera Massabki