Pierre Félix Louis, mais conhecido como Pierre Louÿs, nasceu em Gand, na Bélgica, em 10 de dezembro de 1870. Poeta e romancista, viveu a maior parte da vida em Paris, França, onde ajudou a fundar a revista literária, La Conque, onde foram publicadas obras de autores parnasianos e simbolistas como Andre Gide, Stéphane Mallarmé, Paul Valéry e Paul Verlaine. Uma das principais características de sua obra é a defesa dos direitos homossexuais, produzindo uma série de poemas envolvendo a sexualidade lésbica, com forte erotismo. Pierre Louys faleceu no dia 06 de junho de 1925, em Paris.
Melancolia
Por que me trouxeste aqui? A noite está
fresca e a floresta molhada. Estou me
arrepiando toda.
Minha túnica florida ficará manchada de
verde, e meu cabelo cheio de gravetos. Vê só
meu cotovelo, já sujo de terra úmida.
Outrora, no entanto, eu acompanhava
pelos bosques aquele… Ah! Deixa-me por
algum tempo só. Esta noite estou triste.
Vai-te embora, calado, a mão sobre os olhos.
Não poderás realmente esperar? Seremos,
por acaso, simples animais selvagens para
assim nos comportarmos? Deixa-me. Não
conseguirás abrir meus joelhos nem meus lábios.
Meus próprios olhos se fecham com medo de chorar.
Conselhos a um Amante
Se queres ser amado por uma mulher, jovem
amigo, que não lhes digas que a desejas, mas
faze com que te veja todos os dias. Depois,
desaparece, para, súbito, voltar.
Se te dirigir a palavra, sê afetuoso, sem
precipitação. Ela, por sua própria vontade,
virá a ti. Sabe então tomá-la à força no dia
em que desejar se entregar.
Quando a receberes no leito, negligencia
teu próprio prazer. As mãos de uma mulher
apaixonada são trêmulas e sem carícias.
Dispensa-as de zelo.
Tu, porém, não descanses. Prolonga teus
beijos até perderes o fôlego. Não a deixes
dormir, mesmo que to peça. Beija sempre a
parte de seu corpo para a qual ela dirigir o
olhar.
Intimidades
Perguntas por que me tornei lésbica, ó Bilits.
Mas que tocadora de flauta não o é um
pouco? Sou pobre. Não tenho onde dormir.
Fico na casa da que me deseja e agradeço-lhe
com o que tenho.
Desde pequeninas dançamos nuas. E que
danças, minha querida: os doze desejos de
Afrodite. Olhamo-nos, comparando nossa
bela nudez.
Durante a longa noite, aquecemo-nos para
o prazer dos espectadores. Mas nosso ardor
não é fingido. E tão bem o sentimos, que às
vezes, atrás das portas, uma de nós arrasta
suas companheira, aquiescente.
Como pois amaríamos o homem, conosco
rude? Ele nos agarra como se fôssemos prostitutas
e nos deixa antes do prazer. Tu, que
és mulher, sabes o que sinto. E nisso te empenhas
como para contigo mesma.
Conversa
– Bom dia.
– Bom dia.
– Estás muito apressada.
– Talvez menos do que pensas.
– És uma linda moça.
– Talvez mais do que imaginas.
– Qual é teu encantador nome?
– Não o revelo assim tão facilmente.
– Tens alguém esta noite?
– Sempre aquele que me ama.
– E como é que o amas?
– Como ele quer.
– Jantemos juntas?
– Se assim o desejares. Mas que me dás?
– Isto.
– Cinco dracmas? São para meu escravo.
. E para mim?
– Dize tu mesma.
– Cem.
– Onde moras?
– Nessa casa azul.
– A que horas queres que venha te buscar?
– Já, se quiseres.
– Pois já. Vai na frente.
*Poemas do livro “As canções de Bilits”, Editora Max Limonad, 1984.
Tradução de Mariajosé de Carvalho