Sergio Cohn nasceu em São Paulo, a 16 de abril de 1974. Poeta e editor, criou em 1994 a revista de poesia Azougue e em 2001 a Azougue Editorial. Também editou outras revistas culturais como a Nau, e o Atual – O último jornal da Terra. Como poeta, é autor de “Lábio dos Afogados” (Nankin, 1999), “Horizonte de eventos” (Azougue, 2002), “O sonhador insone” (Azougue, 2006), “O sonhador insone – poesia 1994-2012” (Azougue, 2012), “Esse tempo” (7Letras, 2015), “Um contraprograma” (Patuá, 2016) “Incorporar o Invento” (Azougue, 2019) e “El Soñador Insomne” (Andantes-Espanha, 2023). Mora no Rio de Janeiro desde 2001.


DISCURSO

tecer o fio de ariadne
sem ao menos a intenção
de um dia retornar

tecer pelo exercício
narcísico
de se conhecer e doar

ir, perscrutar
para além do verde
opaco da próxima curva

sabendo cada passo
apenas eco
do anterior

ir
pelo puro prazer
da paisagem

ao estrangeiro

é permitido
o esplendor

DUELO

1
uma fina membrana
líquida, atonal
não mímese
mas proteu

2
sabe em sonho
orgânica, sanguínea
não proteu
mas mímese

AMOR

o que espreita e se insinua
animal furtivo
(chumbo corpo,
pés de pluma)
dançando conforme a lua

o que pouco a pouco
queima da memória
os outros nascimentos
e anuncia a renúncia
que tudo é vário e novo
e está por ser feito
e será

a medusa que assassino
cotidianamente
no meu peito
em que rosto
renascerá?

A DIFERENÇA QUE UM DIA FAZ

você me contava algo intocável
e eu me lembrei daquele quarto de sítio
onde era tão fácil
numa madrugada
sussurrar intrigas
breves fábulas
fingindo não compreender
a crueldade do que estávamos tramando
e era só isso
eu me lembrava de madrugadas desveladas
e você me contava algo intocável
os olhos em respeitos silêncio
como quando passam os mortos

*Poemas do livro “O Sonhador Insone”, Azougue Editorial, 2012.