Stefan George nasceu a 12 de julho de 1868, em Bingen, Alemanha. Poeta e tradutor, foi um dos mais atuantes escritores de sua geração, influenciado nomes como Franz Kafka, por exemplo. Viveu alguns anos em Paris, onde frequentou o serões das terças-feiras do poeta Stéphane Mallarmé. De volta ao seu país fundou a revista literária “Folhas para a arte” (Blätter für die Kunst), onde formou um círculo de intelectuais e novos escritores alemães. Conservador assumido e crítico-profético da Primeira Guerra Mundial, foi muito ligado ao nazismo, no entanto, mostrou que não queria essa associação ao declinar um convite feito pelo ministro Joseph Goebbels para assumir a presidência de uma nova Academia de Artes, em 1933. Nesse mesmo ano foi morar em Locarno, na Suíça, onde faleceu no dia 4 de dezembro.

Mesmo muito crítico da arte moderna, a obra de George pode ser considerada uma ponte entre o século XIX e o Modernismo alemão. Se por um lado ele mantinha a tradição da poesia clássica grega, usando um estilo formal, tom lírico e linguagem arcaica, por outro viés, ele apresentava fortes influências do simbolismo francês, principalmente de Paul Verlaine, onde experimentou várias formas poéticas e métricas, diferentes usos tipográficos e pontuações, rompendo as alusões obscuras que o movimento modernista aprofundaria depois.

A obra mais lembrada de George é a coleção de poesias denominada Algabal; O título é uma referência ao Imperador Romano Elagabalus. Como tradutor ele traduziu para o alemão as obras de Dante, Shakespeare e Baudelaire.

 

ENTES FLUENTES

Seres graciosos queixosos e esquivos
Encontreis refúgio na nossa origem
Senti-vos benvindos e redivivos
Suave abraço e versos nos cingem.

Corpos tais conchas – lábios de corais
Nadam e cantam em palácio sinuoso
Mechas engolem em rochedos espirais
Presos e soltos por vórtice aquoso.

Lâmpada azulada subliminar
Coluna flutuante em pé gigante –
Ondas de acordes de violino a vibrar
Oscila serena em passo pensante.

Caso esse canto vossa mente canse
Fluida alegria em curso cabisbaixo
Um beijo: em torvelinhos vos lance
Em ondas para cima e para baixo.

CORO DE DESPEDIDA

VIA DEUS NOS AMPLIAMOS
Sua terra nos é certa
Sua trama nos inflama
Sua coroa nos convém.
Nosso coração O apraz
Em nosso peito. Ele pulsa
Nossa tez trai. Sua fúria
Nossa boca o Seu desejo.
Sua graça nos abraça
Sua lua nos esclarece
Sua benção nos trespassa
EM nós Sua paz floresce.

A PALAVRA

Maravilha remoto ou sonho
Para minha terra disponho

E aguardo até que a velha norna
Leia o nome na fonte morna –

Posso em mãos reter com firmeza
Esta flor de rara beleza…

Guardada com muito cuidado
Como tesouro delicado

Solene é o seu veredito:
>Nada dormita no infinito<

Escapando de minha mão
E deixando meu pátrio chão

Assim triste concebo a lavra:
Nada existe sem a palavra.

PAZ DO ENTARDECER

Já lacerada pela labareda
Exausta descansa a seca vereda.

E a escura e sulfurina nuvem cai
Uma muralha esconde e o mastro esvai.

Os jardins arquejam com o perfume
A sombra invade os caminhos sem lume.

As ternas vozes suspiram e calam
As altas em zumbidos se resvalam.

Se visões atraem a rica festa
A selvagem luta atrai luz funesta.

Na névoa densa são só escutados
Os débeis sons de mundos dominados.

ENTRADA

Ao mundo das formas, o adeus brado!..
Abra-te bosque de alvos troncos!
Ressalta no azul em montes broncos
Folhas e frutos: cárneo dourado.

Na marmórea fonte entremeado
Lento líquido florido esvai
Ao gotejar da abóboda cai
Qual grãos em vaso prateado.

Corrente fria tufão desfaz
Nuvens na manhã copas descoram
Silêncio atroz bane os que aqui morrem…
Asa mor zás e harpa mor trás!

DESPEDIDA

Comove-me o abraço e o brinde do adeus
A todas! mãos calorosas: qual deus
Hoje leve e me sinto imune a amigos
E inimigos rumo a novos perigos.