David Herbert Lawrence, mais conhecido como D. H. Lawrence, nasceu no dia 11 de setembro de 1885, em Eastwood, Inglaterra. Um dos mais polêmicos autores britânicos da sua época, ficou muito conhecido por seus romances, poemas e livros de viagens, que abordavam temas considerados delicados na sociedade, como, por exemplo, o erotismo, além de controversos posicionamentos. Depois da Primeira Guerra Mundial, passou a ser visto como um apologista do fascismo e do nazismo. Foi chamado pelo filósofo Bertrand Russell, com quem trocou correspondências amistosas durante algum tempo, por “protofascista alemão”, quando os contornos da ideologia nazi-fascista passaram a se desenhar de forma mais clara.

Filhos de pais operários, D. H Lawrance estudou na Universidade de Nottingham, onde passou a lecionar. Em 1912 fugiu para a Alemanha com Frieda Weekly, esposa do seu antigo professor de línguas. Acometido por uma doença, o poeta abandonou a profissão e começou a se dedicar integralmente à literatura. Dois anos depois, em 1914, volta para a Inglaterra casado com Frieda, e suas publicações passam a gerar polêmicas, como o romance “Filhos e Amantes”, de 1913, mas publicado em 1920. Por suas obras e etilo de vida, D. H. Lawrence costumeiramente dividia opiniões daqueles que o amavam por sua subversiva modernidade, enquanto outros o repudiavam, chamando-o de “Poeta indecente, imoral e pornográfico”.

A obra de Lawrence reflete um caráter social evidente, onde a industrialização desenfreada da Inglaterra contrastava com o homem do campo. Deixou uma obra que se estende por quase todos os gêneros literários, onde há um mergulhar profundo pela essência humana, sentindo o pulsar daqueles que lutam, sonham, amam e fazem sexo! A ousadia custou caro ao autor, que viu a sua obra ser censurada dentro do próprio país. Clássicos como “O Amante de Lady Chatterley” e “O Arco-Íris”, foram proibidos por décadas na Grã-Bretanha.

Outra grande discussão em torno da obra de D. H. Lawrence é sobre a preocupação com o inconsciente, a emoção e o desejo do homem. Os filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari encontraram na crítica que Lawrence faz de Sigmund Freud — apesar da inconsistência dos escritos filosóficos do escritor — um importante precursor de relatos anti-edipianos do inconsciente.

D. H. Lawrence faleceu no dia 2 de março de 1930, aos 44 anos, em Vence, na França.


DESPERTANDO

Quando acordei as luzes do lago tremiam na parede,
.    A luz do sol, num cardume, nadava de lado a lado,
E uma abelha graúda se pendurava em umas prímulas
.    Na janela,, o corpo negro, peludo, e um zumbido zangado.

Eu tinha de lembrar-me de uma coisa, eu tinha, contudo
.   Não lembrava; mas para que? As luzes que deslizavam
E as prímulas aéreas, deslembradas
.   Da ameaça da abelha, eram belezas que me bastavam.

EM ABANDONO E DESAMPARO

A casa em silêncio, tarde da noite, eu sozinho;
.              Do balcão
.        Ouço o borborinho do Isar,
.        Vejo a clara greta
Misteriosa do rio entre os pinhos, sob um céu de pedra.

Nas ondas do ar vogam alguns minúsculos
Vagalumes.
Eu me pergunto até onde
Vai essa escuridão que me consome.

LABOR MATINAL

Um bando de operários lidando na pilha
de madeira molhada, que brilha qual sangue
no desvio, ao longo dos trilhos da estrada,
transformam o azul da manhã em algo feérico.
Os troles vão e vêm; como bobinas rubro-
douradas, mãos e rostos vêm e vão também
contra a alta moldura cristalina do dia.
Vozes ressoam em cantoria na cerúlea
cava da mina; e todos riem em sua labuta —
vivendo o seu trabalho como uma folia.

ESQUECER

Ser capaz de esquecer é ser capaz de ceder
a Deus, que habita o fundo oblívio.
Somente no puro oblívio não estamos com Deus.
Pois quando em cheio sabemos, é que deixamos de saber.

FADIGA

Minha alma teve um árduo, longo dia
e está cansada
e procura para si o esquecimento.

Aí! que no mundo não há lugar
para uma alma encontrar o seu esquecimento,
o escuro perfeito de sua paz,
pois o homem matou o silêncio da terra
e violentou cada lugar de esquecimento e paz,
onde os anjos costumavam pousar.

O PENSAMENTO

O pensamento, amo o pensamento,
Não o titubear e retorcer as idéias pré-fabricadas —
Esse jogo de auto-suficiência, eu o desprezo.
O pensamento é o manar da vida oculta à tona da mente,
O pensamento é o teste dos conceitos e a pedra de toque da consciência,
O pensamento é fitar a vida de frente e ler o que ali se pode ler,
O pensamento é ponderar a experiência e chegar a uma conclusão,
O pensamento não é um artifício, um exercício, uma esquivança —
O pensamento é um homem em sua inteireza e inteiramente alerta.

*Poemas do livro “Alguma Poesia”, T.A Queiroz Editor, 1993.
Tradução de Aíla de Oliveira Gomes