Belmiro Ferreira Braga nasceu a 7 de janeiro de 1872, no antigo Distrito de Vargem Grande (hoje Município de Belmiro Braga), perto de Juiz de Fora, Minas Gerais. Poeta, escritor e dramaturgo, foi o fundador da cadeira de número 8 da Academia Mineira de Letras.

Neto do poeta Francisco Lourenço de Barros, a poesia esteve com Belmiro desde pequeno. Após a morte de sua mãe, foi morar na cidade mineira de Muriaé  e passou a trabalhar como comerciante na Estação de Cotegipe. Lá, conheceu o poeta nortista Antônio Sales, que o apresentou tempo depois, em artigo na imprensa carioca, como o “João de Deus Mineiro”.

Com a divulgação de seus trabalhos, Belmiro Braga conquistou, em pouco tempo, razoável popularidade como poeta. Assim, em 1902,  lançou o seu primeiro livro “Montezinas”. Publicou depois: “Cantos e Contos”, em 1906; “Rosas”, em 1911; “Contas do Meu Rosário”, em 1918; “Tarde Florida”, em 1925, e finalmente, “Redondilhas”, em 1934.

Belmiro Braga morreu em Juiz de Fora, a 31 de março de 1937.


SAUDADES

Com que maguas não me lembro
dos teus olhares furtivos !…
Guardo-os na mente inda vivos
e ha quanto tempo !… Dezembro…
Dos teus olhares furtivos
com que maguas não me lembro !

Tão longe delles, a vida
é triste mais do que a Morte…
Eu nem creio que a supporte
por mais que lucte, querida;
que é riste mais do que a Morte
tão longe delles – a vida.

Pudesse eu sentil-os hoje
ainda uma vez ao menos !…
Ah ! não posso; de mim, Venus,
Qual visão extranha, foge,
Ainda uma vez ao menos
pudesse eu sentil-os hoje…

Com teus olhares morria
de minh’alma a densa bruma.
No céo, de estrella nenhuma,
luz tão formosa irradia;
de minh’alma a densa bruma
com teus olhares morria.

Já se foi a branda lida
com esses vaivens da sorte.
Vida mais triste que a morte,
Morte mais doce que a vida
Com esses vaivens da sorte
já se foi a branda lida.

“Não há bem que sempre dure.”
Que grande verdade é esta !
do amor de Romeu, que resta ?
Oxalá que este perdure
Que grande verdade é esta :
Não há bem que sempre dure.”

PERFIDA

Vaes-te casar, amor, e, em carta breve
para assistir ao acto me convidas,
tu, a dama gentil das mãos de neve
e ds unhas rosadas e polidas.

As tuas cartas, noto, eram sentidas
e o teu mimoso estylo era mais leve…
Agora vejo as letras tão tremidas…
e a tua mão não treme quando escreve…

Ah ! que descubro, enfim, todo o mysterio
que á minha vista disfarçar procuras:
Não é mais sobre mim teu imperio

e nenhuma cumpriste destas juras:
Fazer de nossa vida um sonho etherco,
cercar o nosso amor de mil venturas…

O VELHO ANGICO

Eu tinha o peito de illusões provido
na roxa tarde em que nos apartamos
e vi-te, ó velho angico, enflorescido,
passaros mil cantavam nos teus ramos.

Longo tempo volveu ! Nos encontramos
de novo, agora: e vejo-te despido
das verdes folhas e dos gaturamos,
e tu das illusões me vês descrido.

Paridade cruel de condições
e as nossas vidas como são eguaes !…
Para que, pois, fazer comparações:

Folhas e sonhos não nos voltam mais:
– a mim roubou-me o Tempo as illusões,
e a ti – a verde cópa os vendavaes.

NINHO EM RUINAS

Á margem florea do caminho
vê-se um casebre abandonado,
que fôra outr’ora o fôfo ninho
de um jovem par enamorado.

Essa mansarda, agora escombros,
mal se arrimando em quatro esteios
está repleta hoje de assombros
e esteve outr’ora de gorgeios.

Sob esse velho e negro tecto,
a desabar de carunchoso,
quanto carinho e quanto affecto !
quanta ventura e quanto goso !

REMINISCENCIAS

Nesta em que vivo triste soledade,
os olhos rasos d’agua, o peito em ancia,
recordo-me com magua e com saudade
da quadra tão feliz da minha infancia.

E entre o viver de agora e essa aurea edade,
que triste, que cruel, que erma distancia!…
E a manhã que passou voltar não ha de
rescendente de tepida fragrancia?…

Serras virentes que não mais transponho,
a retina fiel ainda eu vos tenho,
e revejo atravez de um brando sonho

a casa onde nasci, as mansas rezes,
a várzea, o laranjal, a horta, o engenho
e a cruz, onde resei por tantas vezes!…

TRES PHASES

Nasceste. Tanta ventura
– essa que te cerca o berço,
não cabe num triste verso,
de tão grande e de tão pura.

Casaste. E os teus dotes varios
são todo o assumpto da festa,
E é nesta quadra modesta
que os cantam versos precarios.

Morreste. No Campo Santo,
de tua faceira herdade,
tens uma cruz. A saudade
enche-me o verso de pranto.

*Poemas do livro “Montezinas (Primeiros Versos)”, Editora Funalfa, 2011.