Entrevista com Bayard Tonelli

Ator consagrado no teatro e no cinema, Bayard Tonelli também é poeta e ativista cultural

Bayard Tonelli – acervo pessoal

“O Teatro e a Poesia são artes sublimes que nos aproximam ao Divino”. Nascido no dia 26 de julho de 1947, em Porto Alegre-RS, Bayard Tonelli mantém suas raízes gaúchas, mas não nega a alma carioca, tampouco o enorme coração brasileiro. Artista multifacetado – é ator, bailarino e poeta – aos 71 anos apresenta a desenvoltura corporal de um jovem em plena efervescência com a sabedoria dos sonhadores mais vividos. Direto e sempre muito autêntico, Bayard é uma voz da arte na luta contra a homofobia e desigualdade social. Por essas e outras, há 4 anos passou a performar os seus versos em eventos de literatura e saraus poéticos, que cada vez mais se espalham pelo Rio de Janeiro.

Como poeta, Bayard publicou o seu primeiro livro em 1998, intitulado “Dzi in Versos”, obra que aborda seu tempo como integrante do grupo “Dzi Croquettes”, movimento que mudou a cena teatral brasileira nas décadas de 70 e 80, com artistas transformistas que misturavam teatro, dança e música. Os poemas de Bayard trazem reflexões pessoais e opções de vida, trazendo eco às coisas que deveriam ser ditas, mas que muitas vezes se escondem atrás dos medos e dos preconceitos.

Bate-papo poético com Bayard Tonelli

Você passou a participar de eventos culturais de poesias, os “novos saraus poéticos”, com muita frequência, tornando-se uma referência para esse público. Como tem observado esse movimento?

“Hoje, em tempos confusos, se busca sempre saídas e a poesia é sinalizadora de inúmeros caminhos. Não apresenta soluções, mas sugere possíveis e impossíveis opções dando luz sobre o novo e sugerindo releituras do conhecido ou esquecido.”

– Qual é o papel da poesia? Como ela entrou na sua vida?

“A poesia sensibiliza, eleva o ser a patamares sutis de sentimentos nobres e da busca constante de crescimento e evolução. A poesia me ajudou a me entender, aceitar e expressar meus sentimentos, ideias e buscas, e também a me libertar de condicionamentos burgueses de nossa sociedade ocidental tão materialista e egoísta. A poesia é libertadora, regeneradora e faz parte da evolução da humanidade.”

– Quais são as suas principais inspirações na poesia?

“Quando criança, na época de escola, eram Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e Castro Alves… Depois veio os poetas clássicos, como Paul Verlaine e Arthur Rimbaud, que foi por onde voltei a interpretar poesia. Aí, embarquei em Walt Whitman, Fernando Pessoa, principalmente Álvaro de Campos, e os antropofágicos de Vinicius de Moraes. Depois, comecei a mostrar as minhas próprias poesias! Hoje acompanho e leio os meus contemporâneos: Mano Melo, Tavinho Paes, Guilherme Zarvos, Chacal, Cairo Trindade, Xico Chaves, Viviane Mosé, e tantos outros brasileiros latinos, africanos, europeus e asiáticos.”

– O que você diria sobre o seu livro “Dzi em Verso”? Vem mais livros por aí?

“Dzi inVerso, me libertou de amarras do passado, me fez mais leve, mais corajoso e audacioso… Preciso fazer nova edição! Tenho material para mais 2 livros de poesias e um livro a finalizar sobre minhas vivências, mas ainda estou em busca de editora para finalizar…”

– Qual o livro que você está lendo atualmente?

“No momento estou lendo o livro “Eternidade Humana”, do poeta Márcio Catunda.”

*Nota: Eternidade Humana, de Márcio Catunda foi lançado em 2018, pela editora Thesaurus. O livro reúne 63 poemas nos quais o autor homenageia grande poetas da história como Homero, Horário, Castro Alves, Cruz e Sousa, Fernando Pessoa, assim como filósofos (Sócrates, Sêneca e Giordano Bruno) e personalidades históricas como Francisco de Assis e Mahatma Gandhi.

– Fernando Pessoa, no poema “Autopsicografia”, diz que o poeta é um fingidor. Você consegue traçar essa ideia com a interpretação teatral de um ator? Qual é a relação entre teatro e poesia para você?

“Teatro e poesia são artes irmãs e em diversos casos se encontram. Mas, não precisam necessariamente uma da outra para existir. Eu mesmo sou considerado um poeta performático, mas também gosto do prazer de uma leitura simples.”

– Qual o conselho que você daria para quem quer começar a ler, entender ou escrever poesia?

“Para quem quer ler, é preciso buscar identificações, poetas que esclareçam, que surpreendam, e que te ajudem a entender poesia. Quem quer começar a escrever a própria é fundamental se expor, se rasgar, sem medo de mostrar suas entranhas, sentimentos e desejos mais ocultos. Vivam uma poesia saudável e libertadora! A poesia é loucura criativa exposta nas palavras do poeta viajante na vida, nas artes e no cosmos!”