Chico Buarque vence o Prêmio Camões 2019

Chico é o primeiro músico a ganhar o Prêmio Camões de Literatura

Um dos maiores ícones da MPB, Chico Buarque é o vencedor do 31º Prêmio Camões de Literatura, uma das principais honrarias da língua portuguesa, oferecido pelos governos de Portugal e do Brasil. O anúncio foi feito na última terça-feira (21) na sede da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

De acordo com o Júri, Chico receberá o prêmio pelo “conjunto da obra” , que engloba música, poesia e literatura, tendo como destaque a sua contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa.

Primeiro músico a vencer o Camões, Chico passa a ser o 13º brasileiro a conquistar o prêmio, que é dado desde 1988. Antes dele nós tivemos: João Cabral de Melo Neto (1990), Rachel de Queiroz (1993), Jorge Amado (1994), Antonio Cândido de Melo e Sousa (1998), Autran Dourado (2000), Rubem Fonseca (2003), Lygia Fagundes Telles (2005), João Ubaldo Ribeiro (2008), Ferreira Gullar (2010), Dalton Trevisan (2012), Alberto da Costa e Silva (2014) e Raduan Nassar (2016).

Ainda não há previsão para data da cerimônia de entrega do prêmio. Chico, que está em Paris, mandou uma nota de agradecimento: “Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, declarou.

VOCÊ SABIA? CHICO TAMBÉM TEM LIVRO DE POESIA

Dentre as obras literárias de Chico Buarque, como escritor ele publicou diversos livros, principalmente romances, novelas e peças teatrais. Porém, o que pouca gente sabe é que em relação à poesia, Chico vai além da suas composições musicais. Em 1981, ele publicou “A Bordo de Rui Barbosa”, livro que conta com uma série de poemas que ele fez no início década de 60 e  que tem ilustrações de Vallandro Keating. Na época do lançamento, ele explicou o nascimento da obra:

“O poema é de 63 ou de 64. Anos que nós dois (Vallandro Keating e ele) dedicamos a não estudar Arquitetura. Ele era o malandro e eu era o carioca. Fazíamos bossa-nova nos porões da FAU, Ele de violão e eu de letrista. Lembro que o malandro usava umas calças sem bolso e, como homem não podia andar de bolsa, ele vivia cheio duns papéis na mão. Quinze anos depois o Vallandro me aparece com esse poema bem amassado. Custei a me reconhecer. Depois que ele mostrou a idéia dos desenhos, achei muito bonito. Ficou como se o malandro tivesse musicado a letra do carioca”.

Leia, abaixo, o poema “Soneto” de Chico Buarque, vencedor do Prêmio Camões 2019:

“Soneto” (Chico Buarque)

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio