Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu no dia 14 de março de 1914, em Sacramento, pequena cidade do interior de Minas Gerais. Negra e vinda de uma família extremamente pobre, transformou o seu dia a dia de catadora de lixo em cenário poético para as suas obras, se tornando uma escritora conceituada e muito admirada por grandes autores e intelectuais da época. Carolina foi uma das duas únicas brasileiras incluídas na “Antologia de Escritoras Negras”, publicada em 1980, pela editora americana Random House. Ela também faz parte do “Dicionário Mundial de Mulheres Notáveis”, publicado em Lisboa.
Vivendo na miséria, Carolina de Jesus foi praticamente autodidata, pois estudou apenas até o segundo ano primário. No início da década de 30, mudou-se para São Paulo com a família e passou a trabalhar como catadora de lixo, na favela do Canindé. Um dia, em meio ao lixo, encontrou uma caderneta com folhas em branco em que passou a escrever, como um autêntico testemunho, o cotidiano de uma mulher negra, favelada e excluída, e que luta para sobreviver de forma digna em sociedade.
Essa caderneta foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, repórter do jornal “Folha da Noite”, que acabou publicando as anotações no livro “Quarto de Despejo”, de 1960, e que vendeu mais de 100 mil exemplares. Essa obra também ganhou destaque internacional, sendo traduzida em 13 idiomas diferentes e vendida em mais de 40 países. Mais tarde, acabou adaptada como peça teatral, além do filme “Despertar de um sonho”, produzido pela Televisão Alemã, que utilizou a própria Carolina de Jesus como protagonista.
Carolina de Jesus faleceu no dia 13 de fevereiro de 1977, em São Paulo.
Poemas de Carolina de Jesus:
Sonhei
Sonhei que estava morta Vi um corpo no caixão Em vez de flores eram Livros Que estavam nas minhas mãos Sonhei que estava estendida No cimo de uma mesa Vi o meu corpo sem vida Entre quatro velas acesas Ao lado o padre rezava Comoveu-me a sua oração Ao bom Deus ele...
Humanidade
Depôis de conhecer a humanidade suas perversidades suas ambições Eu fui envelhecendo E perdendo as ilusões o que predomina é a maldade porque a bondade: Ninguem pratica Humanidade ambiciosa E gananciosa Que quer ficar rica! Quando eu morrer... Não quero renascer é...
Não Digam que Fui Rebotalho
Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida. Digam que eu procurava trabalho, mas fui sempre preterida. Digam ao povo brasileiro que meu sonho era ser escritora, mas eu não tinha dinheiro para pagar uma editora.
Quarto de Despejo
Quando infiltrei na literatura Sonhava so com a ventura Minhalma estava chêia de hianto Eu nao previa o pranto. Ao publicar o Quarto de Despejo Concretisava assim o meu desejo. Que vida. Que alegria. E agora... Casa de alvenaria. Outro livro que vae circular As...
Dá-me as Rosas
No campo em que eu repousar Solitária e tenebrosa Eu vos peço para adornar O meu jazigo com as rosas As flores são formosas Aos olhos de um poeta Dentre todas são as rosas A minha flor predileta Se a afeiçoares aos versos inocentes Que deixo escritos aqui E quiseres...
A Rosa
Eu sou a flor mais formosa Disse a rosa Vaidosa! Sou a musa do poeta. Por todos su contemplada E adorada. A rainha predileta. Minhas pétalas aveludadas São perfumadas E acariciadas. Que aroma rescendente: Para que me serve esta essência, Se a existência Não me é...
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- Castro Alves
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