Cesário Verde
José Joaquim Cesário Verde nasceu no dia 25 de fevereiro de 1855, em Lisboa, Portugal. Considerado um dos percursores da poesia portuguesa do século XX, empregou técnicas impressionistas aos seus versos para retratar dicotomias entre a vida na cidade o no campo, seus cenários prediletos. Essas inovações estéticas para retratar realidades cotidianas o fizeram ser por muitas vezes “incompreendido” e comparado ao poeta francês Charles Baudelaire.
Com um estilo delicado, a forma de escrita de Cesário Verde evitava o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural. Sua fonte de inspiração é a terra-mãe, por isso, habitualmente, teve suas obras associadas ao “mito de Anteu”. A supremacia exercida pela cidade sobre o campo era constantemente comparada pelo poeta, mas ao contrário de outros escritores portugueses, não observava o campo com o costumeiro aspecto idílico, paradisíaco e bucólico dos devaneios poéticos, mas sim um espaço real, concreto, autêntico, formado por pessoas livres e com hábitos próprios.
Cesário Verde morreu aos 31 anos, em 19 de julho de 1886, em Lumiar, Portugal.
Poemas de Cesário Verde:
Eu e Ela
Cobertos de folhagem, na verdura, O teu braço ao redor do meu pescoço, O teu fato sem ter um só destroço, O meu braço apertando-te a cintura; Num mimoso jardim, ó pomba mansa, Sobre um banco de mármore assentados. Na sombra dos arbustos, que abraçados, Beijarão...
Contrariedades
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente; Nem posso tolerar os livros mais bizarros. Incrível! Já fumei três maços de cigarros Consecutivamente. Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos: Tanta depravação nos usos, nos costumes! Amo, insensatamente, os ácidos, os...
Impossível
Nós podemos viver alegremente, Sem que venham com fórmulas legais, Unir as nossas mãos, eternamente, As mãos sacerdotais. Eu posso ver os ombros teus desnudos, Palpá-los, contemplar-lhes a brancura, E até beijar teus olhos tão ramudos, Cor de azeitona escura. Eu...
Num Bairro Moderno
Dez horas da manhã; os transparentes Matizam uma casa apalaçada; Pelos jardins estancam-se as nascentes, E fere a vista, com brancuras quentes, A larga rua macadamizada. Rez-de-chaussée repousam sossegados, Abriram-se, nalguns, as persianas, E dum ou doutro, em...
Manias
O mundo é velha cena ensanguentada. Coberta de remendos, picaresca; A vida é chula farsa assobiada, Ou selvagem tragédia romanesca. Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada -, Que amava certa dama pedantesca, Perversíssima, esquálida e chagada, Mas cheia de jactância,...
Heroísmos
Eu temo muito o mar, o mar enorme, Solene, enraivecido, turbulento, Erguido em vagalhões, rugindo ao vento; O mar sublime, o mar que nunca dorme. Eu temo o largo mar, rebelde, informe, De vítimas famélico, sedento, E creio ouvir em cada seu lamento Os ruídos dum...
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- Fernando Pessoa
- Gil Vicente
- Mário Sá-Carneiro
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