Há 83 anos, entre abril e maio de 1941, o Rio Grande do Sul, assim como agora, sofreu uma catástrofe climática. Segundo registros da época, Porto Alegre recebeu chuva por 24 dias seguidos, vitimando dezenas de pessoas e desabrigando cerca de 70 mil famílias nas regiões do Estado. Mario Quintana, dos mais importantes poetas gaúchos, impressionado com os acontecimentos, escreveu um de seus mais comoventes poemas sobre a tragédia, intitulado “A Grande Enchente”. Veja abaixo:

A GRANDE ENCHETE (Mario Quintana)

Cadáveres de Ofélias e cadelas mortas
vinham parar por instantes às nossas portas
porém, sempre a mercê dos redemoinhos
prosseguirão depois seus incertos caminhos.

Quando a água alcançar as mais altas janelas
eu pintarei rosas de fogo em nossas faces amarelas
o que importa o que há de vir
tudo é poupado aos loucos
e os loucos tudo se permitem.

Vamos, espírito de Deuses
sobre as águas pairamos
alguns de nós dizem que apenas somos nuvens
outros, uns poucos, dizem que somos cada vez mais mortos
mas não avisto, lá embaixo, os nossos próprios defuntos.

E em vão também olho em redor
onde é que estão vocês, amigos, amigas,
dos primeiros e últimos dias
é preciso, é preciso, é preciso continuarmos juntos
então, em um último e diluído pensamento
eu sinto que meu grito é só a voz do vento.

SEJAMOS SOLIDÁRIOS. FAÇA A SUA DOAÇÃO! ACESSE O LINK DO SITE SOS RIO GRANDE DO SUL E VEJA COMO CONTRIBUIR. TODA AJUDA É IMPORTANTE!

*Foto de capa – Sioma Breitman/Divulgação