Armindo José Rodrigues nasceu a 1904, em Lisboa, Portugal. Médico, tradutor e poeta, é considerado um dos principais nomes dos neorrealistas portugueses. Parte do Movimento de Unidade Democrática (MUD), foi preso diversas vezes durante o regime salazarista, se transformando em um voz importante contra o fascismo no país. Como tradutor, organizou obras de André Malraux, Alain-Fournier, Mikhail Cholokov e Oscar Wilde. Em 1979, José Saramago produziu uma antologia da obra do poeta, intitulada “O Poeta Perguntador”. Faleceu no dia 08 de agosto de 1993.
O Sol na Água Pousa
Alado, o sol na água pousa
e dele treme a água amedrontada,
que a ardente imagem lhe devolve em rosa
e em si própria um distante sonho ousa
de céu amargo, que não sonha nada.
Poema do livro, ‘Sabor do Tempo (XVIII)”
Mordo a Terra
Mordo a terra.
A terra
tem um gosto
a espanto,
tem um gosto
a vida,
tem um gosto
a suor,
tem um gosto
a estrume,
tem um gosto
a sol.
Poema do livro, “Rio sem fim (XLV)”
Pouco é um Homem
Pouco é um homem e, no entanto, nele
cabe tudo o que existe e fica ainda
espaço bastante para poder negá-lo.
Poema do livro, ‘Beleza Prometida (XC)’
Jogo
Estão as cartas dadas.
O jogo está feito.
Não é por respeito
que me dão pedradas.
Peço à igualdade
que haverá um dia,
mesmo que tardia,
que me sempre agrade.
Riquezas não espero.
De glórias motejo.
Nem outro desejo
menor considero.
Se invejas provoco
por dons naturais
não preciso mais.
Chega-me o meu pouco.
Não sendo agressão,
pois me nem abala,
a mim que me rala
outra opinião?
Todo o meu anseio
se cifra em querer
a sorte vencer,
sem sentir receio.
Se o posso ou o nego
não posso sabê-lo,
senão a sofrê-lo
com desassossego.
Poema do livro, “Ocasional a Vida”