Viviane Mosé nasceu em Vitória, Espírito Santo, no dia 16 de janeiro de 1964. Além de poeta, é filósofa, psicóloga, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Publicou sua tese de doutorado “Nietzsche e a grande política da linguagem” em 2005 pela editora Civilização Brasileira.

Escreveu e apresentou, entre 2005 e 2006, o quadro “Ser ou não ser”, no Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana. Também participou como comentarista do programa “Liberdade de Expressão”, na Rádio CBN, com Carlos Heitor Cony e Artur Xexéo. Hoje é sócia e diretora de conteúdo da Usina Pensamento.

*

Como um pássaro no braço do sofá fico pasmando.
Como um gato no tapete, um caramujo de planta, uma planta.
(plantas sabem respirar pessoas, mas vaso de sala
não tem este poderio)
Mas sei também ficar em estado de bibelô, um cinzeiro inca
Uma mesa, sustentada em quatro pés.

Quando comecei só sabia paredes.
Pasmava em estado delas brancas.
Ser parede branca por dentro esvazia e recomeça.
Depois comecei a pasmar quase tudo em casa.
E vou me renovando. Em estado de vidro.
Em situação de porta. Entre o dentro e o fora.
Que é pra onde o estado da casa
Encaminha a pessoa.

Já vivência de janela é perigoso.
Ainda mais se for de andar alto.
Inspira o pássaro.
Aí você viu como fica, gente não tem asa
O que gente tem mesmo é vontade.
Em estado de guerra.
Um campo de batalha é o ser de uma pessoa.

*

Para uma nova gramática:
Imagine um sentimento água, um sentimento árvore.
Uma agonia vidro, uma emoção céu, uma véspera pedra.
Um amor manga. Um colorido vento sul. Um jeito casa
De ser. Uma forma líquida de pensar. Uma vida paredes,
Uma existência mar. Uma solidão cordilheira. Uma alegria
Pássaro em chuva fina. Uma perda corpo.

Acho que hoje acordei semente. Tenho andado muito
Temporal. Minha irmã vive um momento tudo.
A vida às vezes transborda pelos poros. Me atinge
Um estado livro, aurora em meus joelhos.
Tem pessoas ponte, algumas carregam a gravidade
Nas costas. Já conheci gente buraco negro. Eu amo
O instante limo. Tem um branco em mim. A vida me Urca.
Sofro de saudade anônima. Palavras me beijam a boca.

)acho que amanheci por dentro. Eu hoje amanheci por dentro(

*

Sem intrigas nem trama, sem ação,
Poesia é solidão e queda.

Um vôo no abismo.
Um passeio pasmado
No desencontro das coisas,

O poema é uma moldura vazia
Onde a vida entra

*

A maioria das doenças que as pessoas têm
São poemas presos.
Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras
Calcificadas,
Poemas sem vazão.

Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado.
Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema.
Mas não.

Pessoas às vezes adoecem sem razão
De gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida
Escorrendo em estado de lágrima

*

A arte apolínea é uma forma de subjetivação
Fundada na exterioridade
Já a subjetividade trágica se sustenta no conflito
A razão acredita na identidade como princípio

Isto também é poema

*Poemas do livro “pensamento chão – poemas em prosa e verso”, Editora Record, 2007.