Nascida no Rio de Janeiro, a 15 de julho, Anna Maria Fernandes é poeta e jornalista graduada pela Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso. Também é formada em Direito, pela Faculdade Bennet. Tem 8 livros publicados, uma Antologia Poética com a reunião de 5 livros. O seu segundo livro, “Seiva e Sumo”, recebeu o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras, ABL, em 1973. Recebeu várias menções Honrosas, entre elas, da União Brasileira de Escritores-UBE, sobre o Ensaio da vida e obra do escritor Jorge Amado, em 2012. O seu livro “Sol do ser/ Sol de dentro”, ficou entre os 10 finalistas do concurso da Biblioteca Nacional, em 2018.

Carajás

Na serra o ouro reluz
É do criador o brilho diurno
A onda, no mar, se reproduz
Nó inconstante, pó noturno

Na serra, corpos nus, suor no rosto
Garimpam um pedaço de pão
Marinheiros no mar, no posto
Singram águas, sorvem ração

E nesse corre-corre, nessa lufa-lufa
Há o marasmo sem dor, que dor produz
Certo é seguir, não deter em estufas
A cólera, o combate, a febre, o pó

Domador

Para lavrar minha terra
Não necessito de braços
Para pintar meu retrato
Nem de tintas nem pincéis
Procuro encontrar minha rês
Na marcação dos seus cascos
Sustento o grito que me fez
No bico de um novo galo
Na mágica de meus cordéis
Vibro o chicote num estalo
Formas valem mais do que ouro
De ourives e seus anéis

Canção Negra

Ébrio, em haste flamejante
O sol se fecha como um leque
Rugindo ao rubro, soturno amém
Na negra caixa de acrílico
Minha luz procura um lume
Farta de meus esmaltes
Sem palavras que me tentem
Milagres de artifício
Eu me ganho de presente:
— Um lagarto que se arrasta
Lerdo à sua vontade

Tempo

Eram elos divididos
Laranja de muitos gomos
Que excêntrico artesão
Cria as espécies de encaixe
Seco em mata-borrão
Come as pontas de lápis
Viageiro poliglota
Invadindo territórios
Devendo sempre uma cota
Sem réplica que o persiga
Matéria-prima do vento
Nos debulha como espigas

Aspereza

Áspera é a guerra
E a fome
E a espera
Mais áspera.

Áspera é a derrota
E a luta
E a queda
Mais áspera.

Áspera é a data
Gravada nas pedras
E a frase incompleta
Mais áspera.

Metamorfose

Por que o mundo ficou assim
Tão deserto
Feito apenas de momentos improvisados?
Por que os meus sonhos estão assim
Tão incertos
Inconscientemente irrealizados?
Por que eu vejo a vida assim
Plena de amargura
Compartilhada em ausências?
Por que me tornei tão insegura
Desintegrada em minha própria essência?
O que foi feito de mim?
Perdi-me no amor ou no tempo?

*Poemas extraídos do livro “Cinco Livros – Antologia Poética”, Ibis Libris, 2015.