James Douglas Morrison, mais conhecido como Jim Morrison, nasceu em Melbourne, Flórida, Estados Unidos, no dia 8 de dezembro de 1943. Ícone do Rock and Roll, sendo o líder da banda The Doors, na década de 60, também foi poeta, tendo publicado dois volumes independentes: “The Lord” e “The New Creatures”, ambos em 1969.
Apesar de sua carreira como Rock Star ter sido a de maior sucesso em sua trajetória, Morrison sempre quis ser visto como poeta. Influenciado por nomes como Arthur Rimbaud, Aldous Huxley e William Blake, sua poética apresenta características místicas, sensitiva e questionadoras, também sendo conhecido pelas performances faladas, muitas vezes em improvisos, chamadas de “Spoken Words”. Em 1971, ano de sua morte, foi morar em Paris, na França, para focar na carreira literária.
A vida de Morrison foi intensa. Com estilo boêmio e depressivo, desenvolveu uma grave dependência de álcool que juntamente com o consumo de drogas culminou na sua morte aos 27 anos de idade. Jim Morrison faleceu no dia 3 de julho de 1971, em Paris, França.
Habitamos uma cidade
A cidade forma – física, mas sobretudo
psiquicamente – um círculo. Um Jogo. Anel de morte
com o sexo no centro. Guiar até ao perímetro
suburbano. Descobrir aí zonas de
sofisticado vício e tédio, de prosti-
tuição infantil. Mas é nesse sujo anel implacável
apertando as ruas do comércio diurno que fervilha a única
multidão viva, nossa estirpe, artérias
vivas, noite viva. Cobaia doentes em pensões
baratas, quarto reles, bares, casa de penhor,
teatros de variedades e bordéis; arcadas moribunda que
nunca morrem. Ruas e rua de cinemas de
sessão contínua.
V
Queda.
Chegam-nos deuses estranhíssimos com poses hostis.
As suas camisas sedosas unem
. cabelo e pano.
Ao longo dos braços os ornamentos
. escondem azulíssimas veias
. procuram acolhimento.
Ligam-nos meigos olhos de lagarto.
E os sufocados gritos de inseto erguem
. um medo novo, lá onde o medo reina.
Roçando os sexos contra a pele.
Vento acima de tudo.
Inscreve o teu testemunho na terra castigada.
*
Leões inertes na praia alagada.
O universo inteiro ajoelha no lodo
interrogando-se sobre a dureza de tais
poses decadentes
refletidas no espelho da consciência humana.
Espelho ausente e múltiplo, absorvente,
indiferente a tudo quanto o visite
ou retenha a atenção.
Porta para o outro lado,
a alma liberta-se e galga.
Viro os espelhos para a parede
na casa dos novos mortos.
*
O xamã personifica a sessão. O pânico sensual,
deliberadamente suscitado por drogas, cânticos,
dança o xamã no transe. Voz alterada,
gestos convulsivos. Está fora de si. Todos estes
histéricos profissionais, escolhidos precisamente pela sua
tendência psicótica, foram em tempos tidos em consideração. Punham
o homem
em contato mediúnico com o mundo dos espíritos. As travessias
mentais deles asseguravam o eixo da vida religiosa
da tribo.
*
Órgãos genitais de machos: pequenos rostos
formando trindades de ladrões
e Cristos.
Pais, filhos, fantasmas.
Um nariz encavalitado no muro
e dois meios olhos, tristes olhos,
mudos, desamparados, multiplicam
o infindável ciclo das vitórias.
Parcos e secretos triunfos, lutas
de cavalariça e agressões de prisão,
glorificam as nossas muralhas
inebriando-nos a vista.
O horror dos espaços vagos
propaga a sua marca à intimidade.
*
Dançai irmãs do unicórnio
Dançai irmãos e irmãs
Da Pirâmide
Mãos decepadas
Fábulas antigas
Descobrimento das mutações
do Lago Sagrado
Intransmissível quietude do choro do bebê
O cadela raivosa
A besta sagrada
Descubram-na!
*Poemas do livro “Os Mestres E As Criaturas Novas”, Assírio & Alvim, 1987.
Tradução de Paulo da Costa Domingos