Joseph Rudyard Kipling nasceu Bombaim, Índia, no dia 30 de dezembro de 1865. Considerado um dos escritores britânicos mais importantes de todos os tempos, popularizou-se na Inglaterra com obras em prosa e poema, além de contos infantis, no final do século XIX e início do XX. Venceu o Prêmio Nobel de Literatura em 1907, tornando-se o primeiro autor de língua inglesa a conquistar a honraria e, até hoje, o mais jovem a recebê-la. Entre outras distinções, foi sondado em diversas ocasiões para receber a Láurea de Poeta Britânico e um título de Cavaleiro, as quais rejeitou. Rudyard Kipling faleceu no dia 18 de janeiro de 1936, em Londres, Inglaterra.
A CANÇÃO DO DÍNAMO
Como saber o que a Lei reserva
A mim dentro da existência?
Sei apenas que, se fizer determinadas coisas,
Deverei tornar-me sua Audição e sua Visão;
E também sua Energia, para girar as grandes maquinarias,
E resguardar seus filhos da dura lida, enquanto estou confinado!
O que me importa o modo como emprega
As Energias que me impulsionam?
Apenas sei que participo das
Terríveis Forças que despedaçam o firmamento sobre mim,
E, devastando a terra, poderão livrar-me por fim –
Mas sua precaução covarde me mantém aprisionado!
“VENENO DE ÁSPIDES”
“Há veneno de áspides sob nossos lábios?”
Por que nos perseguir, então?
E esmagar nossas companheiras emaranhadas
Com homens de pés barulhentos?
Por inúmeras vezes nós os deixamos partir,
Aos ouvi-los, deslizamos para longe;
Mas eles nos seguem e importunam – por isso
Atacamos, e assim eles morrem.
“Há veneno de áspides sob nossos lábios?”
Então por que os comprimir? –
Para aprender como o veneno se produz e goteja
E segue seu caminho até o coração.
É injusto que quando fizemos
Tudo o que uma serpente deve fazer,
Você recolha nosso veneno, gota a gota,
E o destrua para seu proveito.
“Há veneno de áspides sob nossos lábios?”
É essa a sua pergunta? Não!
Por sibilarmos no eclipse de Adão
Essa é a razão por nos odiarem tanto.
A PORTA ABERTA
A Inglaterra é um país pequeno e agradável,
Exceto pelas correntes de ar junto ao chão.
E é por isso que dizem,
Quando os corredores estão gelados:
“Amor, você esqueceu de fechar a Porta!”
O Horrível Vento do Leste sopra…
O Gato no Tapete o demonstra…
Sentada na escrivaninha, a tia o sabe…
“Amor, você esqueceu de fecha a Porta!”
Feche – feche – feche a Porta, meu amor!
Sempre feche a Porta atrás de sim, mas
Você poderá partir quando estiver velho
Para onde não há frio algum…
E não há nenhuma porta que precise ser fechada!
E…
A imensa Varanda o demonstra…
A pálida Magnólia o sabe…
O atrevido jasmim branco sopra…
Não há nenhuma Porta que precise ser fechada!
A cantante Macieira o sabe…
O vaga-lume da meia-noite o demonstra…
Os Raios de Luar o revela…
Não há nenhuma Porta que precise ser fechada!
As Praias leitosas o sabem…
As Brisas suaves o sopram…
Os Raios do Amanhecer o demonstram…
Não há nenhuma Porta que precise ser fechada!
TAL COMO NOS NAVIOS
Tal como nos Navios e em frágeis Embarcações
Nos Mares descendentes
Deve-se aprender quão sagradas são as Arcas
De que nossos Viveres dependem
Quando um Homem precisa almoçar ou jantar.
Ou comprar Mercadorias e Equipamentos,
Ele deve conclamar o Oceano,
E mais um Hemisfério.
Considere, agora, o Tabaco Indiano
Que cresce sobre o Meno,
Com Chás e Algodão para nossa Necessidade,
E o Açúcar de Cana…
Que Chega a Nós com a mesma atenção
Que o Milho Diário ou o Óleo:
Ainda hoje, quando Homens Os trazem para cá
Quão infinita é a Labuta!
Nações e Pessoas colhem
Em meio a Terras tropicais,
E Máquinas de Respiração desordenada
Empurram a Produção adiante…
Sim, mesmo durante as Hecatombes
Que no momento abatem,
Os Ventres laboriosos de nossa Armada
Trazem Ninharias para a Cidade.
DUAS RAÇAS
Não persigo o que a alma dele aspira:
Ele não se apavora com o que meu espírito teme.
Nossas Estrelas nos mostraram chamas distintas.
Nossos destinos nos designaram idades diferentes.
Nossas alvoradas e nossa morte eterna
Para nós designada e sempre controlada
Vivem separadas no manancial,
E distantes, agora, como os Pólos opostos.
Ainda, habitando assim, esses mundos à parte,
Quando nos encontramos cada qual é livre
Para desnudar o imenso coração humano,
Que parentes e vizinhos raramente vêem.
(Costumes e normas comparam-se em piadas –
Expõem-se as fraquezas sem constrangimento –
E certos pecados em comum são confessados
Os que todo homem conhece, e nenhum ousa censurar).
E assim é; e, bem satisfeita
Esta deveria ser a breve ocasião,
Em que cada um descobre o melhor do outro,
E então retorna para seguir a própria raça!
*Poemas do livro “As crônicas do Brasil”, Editora Landmark, 2006. Tradução de Luciana Salgado.
SE
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires;
De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores;
Se, encontrando a desgraça e o triunfo, conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E – o que mais – tu serás um Homem, ó meu filho!
*Tradução de Guilherme de Almeida