Susana Thénon nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1937. Poeta de vanguarda argentina, ao lado de nomes como Juana Bignozzi e Alejandra Pizarnik. Embora não tivesse feito parte de nenhum movimento literário específico, é relacionada à Geração de 60. Também foi tradutora, ensaísta e fotógrafa. Dona de uma voz carregada de crítica e ironia, ressalta o belo e a arte em sua criação. Escreveu as obras Edad sin tregua (1958), Habitante de la nada (1960), de lugares extraños (1967), distancias (1984) e Ova completa (1987).Faleceu no dia 5 de abril de 1991, em Buenos Aires.
ROUND 15
ah sim
que fácil
word games
um tampão de vozes
mimpede
de engo
lir
mais fácil que não fazer
ou fazer nada
como o tio de deus
como o tio de deus
que não fez nada
voar doalf abeto
me afogo
*
isso que se chamava aquilo
agora é “isto”
aliás “algo”
aliás “a coisa”
e no lapso que vai da segunda linha à anterior
trocou-se o mesmo pelo mesmo
e “isto” continua com mais
com peróxido
um montão ululante de não sei o quê
se juntou
na frente da igreja
isso que se chamava aquilo
agora é “isto”
e no fim era o Nome
A ANTOLOGIA
você é
a grande poetisa
Susana Etecetera?
muito prazer
eu me chamo Petrona Smith-Jones
sou professora adjunta
da Universidade de Poughkeepsie
e estou na Argentina com uma bolsa
da Putifar Comission
para fazer uma antologia
de escritoras em vias de desenvolvimento
desenvolvidas e também na menopausa
embora saibamos que seja como for
todas as que escreveram e escreverão na Argentina
já pertencem à geração de 60
inclusive as que estão no berçário
e inclusivissimamente as que estão no asilo
mas o que me importa profundamente
na sua poesia e arredores
é essa profissão – ahhh como se diz? –
profusão de ícones e índices
qual a sua opinião sobre o ícone?
todas as mulheres o usam
ou também é coisa do machismo?
porque você sabe que na realidade
o que me interessa
é não só que escrevam
mas que sejam feministas
e se possível alcoólatras
e se possível anoréxicas
e se possível violentadas
e se possível lésbicas
e se possível muito muito desgraçadas
é uma antologia democrática
mas por favor não me traga
nem sãs nem independentes
SEQUÊNCIA OCIDENTAL HORROROSA COM FINAL CHINÊS EQUÂNIME
nascer significa desejar tudo
e se aborrecer e aborrecer
crescer significa desejar muito
e se aborrecer e aborrecer
amadurecer significa desejar algo
e aborrecer por não o obter
velhecer significa desejar pouco
e aborrecer cada vez mais
e molê significa desejá nada
e abolecê cada vez menos
*
bem
estou morte
e quero me divertir
então
onde é que está tudo?
não tem ninguém?
sim
sim
um brilho atravessa a janela
estou fora
e você dentro
você brinca com o espelho
você me tapa um olho com o sol
fez bem
porque estou morta
e quero me divertir
já posso entrar?
ainda não?
que eu espere?
como antes?
um pouco mais?
como antes
os espelhos
o sol
eu fora
você dentro
ainda não?
PRESTÍGIO: parada anterior ao grande terminal LAGUNA ESTÍGIA
é possível descer
mas você corre o risco de virar para sempre
sapo esquizoide: ser que aos pulos
sobrevive às mudanças das vias
em PRESTÍGIO também há sanduíches
caso a fome te barrar o provir
coma o quanto quiser
não vá olhar o recheio
a magna alquimia está apenas alvorecendo
*Poemas do livro “OVA completa”, Editora Jabuticaba, 2019.
Tradução de Angélica Freitas