Cora Coralina
Ana Lins dos Guimarães Peixoto, mais conhecida pelo pseudônimo “Cora Coralina”, nasceu no dia 20 de agosto de 1889, na cidade de Goiás, em Goiás. Considerada uma das mais importantes e queridas personagens da literatura brasileiras do século XX, cursou apenas até a terceira série do curso primário. Poeta e contista, mesmo escrevendo e produzindo prosas poéticas desde os 14 anos, só veio a publicar o primeiro livro, “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, aos 75 anos de idade. Foi eleita, pela União Brasileira dos Escritores, a “Intelectual do Ano de 1983”, recebendo o “Prêmio Juca Pato”.
Vivendo a maior parte da vida distante dos grandes centros urbanos, Cora Coralina fez de sua poesia uma extensão do jeito simples e pacato das pessoas do interior brasileiro, em especial da região Centro-Oeste. Com uma escrita distante dos modismos literários da época, até mesmo com certo desconhecimento das regras gramaticais, a poeta transformou a sua “ignorância” em uma maneira própria de expressão, priorizando a mensagem ao invés da forma. Dentre os temas mais abordados pela escritora, os elementos folclóricos e regionais foram bases líricas de suas reflexões.
Apesar de enaltecer a vida interiorana, Cora sabia que existia um mundo muito maior do que o seu. Por causa disso, ela buscava compreender a sua própria essência e o local onde ela estava inserida na visão das pessoas. Essas questões despertaram na autora a curiosidade de saber e refletir sobre a necessidade de atingirmos a plenitude espiritual, através da paz e do equilíbrio no dia a dia. Ainda conhecida como Ana, em 1907 passou a frequentar o “Clube Literário Goiano”, situado no sobrado de dona Virgínia da Luz Vieira. Nesse período começa a redigir para o jornal literário “A Rosa” e, em 1910, usando pela primeira vez a assinatura “Cora Coralina”, tem o seu conto “Tragédia na Roça” publicado no “Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás”.
Em 1911, foge de Goiás com o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas, que exercia o cargo de Chefe de Polícia (hoje equivalente ao de secretário de Segurança Pública) do governo do presidente Urbano Coelho de Gouvêa. Os dois vão viver no município de Jaboticabal, interior de São Paulo, onde nasceram seus seis filhos: Paraguaçu, Eneas, Cantídio, Jacyntha, Ísis e Vicência. Ísis e Eneas morreram logo depois do parto. Cora chegou a ser convidada para participar da Semana de Arte Moderna de 1922, mas foi impedida pelo marido.
Mudam-se para São Paulo em 1924. Dez anos mais tarde, em 1934, morre Cantídio. Com 4 filhos para sustentar, Cora passa a se dedicar a profissão de doceira. Porém, durante esses anos, não deixou de escrever poemas. Ao completar 50 anos, a poeta atravessa uma grande transformação interior, que ela mesmo definia como “a perda do medo”.
Decidida a publicar o primeiro livro, com 70 anos dedica-se a aprender datilografia para entregar os seus poemas às editoras. Enfim, após 5 anos, em junho de 1965, consegue lançar “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”. A obra foi muito bem conceituada pela crítica e ganhou grandes elogios do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Cora Coralina faleceu no dia 10 de abril de 1985, em Goiânia, Goiás. A sua casa, na Cidade de Goiás, foi transformada em museu.
Poemas de Cora Coralina:
Mascarados
Saiu o Semeador a semear Semeou o dia todo e a noite o apanhou ainda com as mãos cheias de sementes. Ele semeava tranqüilo sem pensar na colheita porque muito tinha colhido do que outros semearam. Jovem, seja você esse semeador Semeia com otimismo Semeia com idealismo...
Assim Eu vejo a Vida
A vida tem duas faces: Positiva e negativa O passado foi duro mas deixou o seu legado Saber viver é a grande sabedoria Que eu possa dignificar Minha condição de mulher, Aceitar suas limitações E me fazer pedra de segurança dos valores que vão desmoronando. Nasci em...
Ressalva
Versos… não Poesia… não um modo diferente de contar velhas histórias
Considerações de Aninha
Melhor do que a criatura, fez o criador a criação. A criatura é limitada. O tempo, o espaço, normas e costumes. Erros e acertos. A criação é ilimitada. Excede o tempo e o meio. Projeta-se no Cosmos
Mãe
Renovadora e reveladora do mundo A humanidade se renova no teu ventre. Cria teus filhos, não os entregues à creche. Creche é fria, impessoal. Nunca será um lar para teu filho. Ele, pequenino, precisa de ti. Não o desligues da tua força maternal. Que pretendes, mulher?...
Aninha e suas Pedras
Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de...