Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu no dia 19 de abril de 1886, no Recife, Pernambuco. Considerado um dos principais poetas brasileiros do Século XX, ele fez parte da Primeira Geração Modernista no Brasil, junto a nomes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Ronald de Carvalho. Em 1940, passou a ser membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira n.24, que pertencia a Luís Guimarães Filho.
Para tratar-se de tuberculose, em 1913, Manuel Bandeira precisou ser internado no sanatório de Cladavel, na Suíça. Lá conviveu com o poeta francês Paul Éluard que o apresentou as novidades artísticas que estavam em efervescência na Europa. A partir daí, a visão modernista de Bandeira acentuou-se em suas obras, tornando-o uma referência da poesia livre, com versos soltos e sem rigidez métrica.
Parnasiano, Bandeira utilizava linguagem coloquial, muita irreverência e inventividade, para abordar temas melancólicos e do cotidiano. Ele apresentava poemas fora dos padrões da época, mas que chamavam muito a atenção. “Vou-me embora para Pasárgada”, uma de suas obras mais famosas, retrata exatamente o talento criativo do autor, que usou da imaginação para criar um ambiente próprio, lúdico e repleto de simbolismos.
Primo de outro grande poeta da nossa literatura, João Cabral de Melo Neto, Bandeira atuou em diversas áreas e profissões. Além de poeta, ele também foi professor de literatura, crítico de arte e historiador literário, possuindo uma vasta obra dentre poesias, prosas, antologias e traduções.
Manuel Bandeira faleceu no Rio de Janeiro, aos 82 anos, em 13 de outubro de 1968, vítima de hemorragia gástrica.
Poemas de Manuel Bandeira:
Desencanto
Eu faço versos como quem chora De desalento… de desencanto… Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente… Tristeza esparsa… remorso vão… Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes...
Arte de Amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus – ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os...
O Exemplo das Rosas
Uma mulher queixava-se do silêncio do amante: - Já não gostas de mim, pois não encontras palavras para me louvar! Então ele, apontando-lhe a rosa que lhe morria no seio: - Não será insensato pedir a esta rosa que fale? Não vês que ela se dá toda no seu...
O Rio
Ser como o rio que deflui Silencioso dentro da noite. Não temer as trevas da noite. Se há estrelas no céu, refleti-las E se os céus se pejam de nuvens, Como o rio as nuvens são água, Refleti-las também sem mágoa Nas profundidades tranquilas.
A Estrela
Vi uma estrela tão alta, Vi uma estrela tão fria! Vi uma estrela luzindo Na minha vida vazia. Era uma estrela tão alta! Era uma estrela tão fria! Era uma estrela sozinha Luzindo no fim do dia. Por que da sua distância Para a minha companhia Não baixava aquela estrela?...
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três… trinta e três… trinta e três… — Respire. — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo...
O Último Poema
Assim eu quereria meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A...
Poética
Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo....
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me Embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que...
Poetas similares a Manuel Bandeira:
- Carlos Drummond de Andrade
- Mário de Andrade
- Oswald de Andrade
Trackbacks/Pingbacks