Augusto dos Anjos
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho “Pau d’Arco”, na Paraíba, no dia 22 de abril de 1884. No ano de 1900, com apenas 16 anos, ingressou no Liceu Paraibano e compõe seu primeiro soneto, “Saudade”. Seu pai, Alexandre Rodrigues dos Anjos, formado em Direito, o inspirou a se formar na área.
Em 1908, foi nomeado professor do Liceu Paraibano, mas afastado dois anos depois, por desentendimentos com o governador do estado. Casou-se, em 1910, com Ester Fialho e mudou-se para o Rio de Janeiro. Seu único livro, “Eu”, foi publicado em 1912, causando espanto da crítica, que o julgou mórbido e vulgar. Posteriormente, sua obra foi reeditada e lançada com o título “Eu e outras poesias”.
O poeta é frequentemente apontado como o mais crítico da literatura brasileira. O cientificismo e rigor estético presentes na obra de Augusto dos Anjos são características herdadas dos parnasianos e simbolistas, porém sua obra é frequentemente associada ao pré-modernismo.
Rica em metáforas e permeada pela angústia, melancolia e gosto pela morte e podridão, a obra de Augusto pode ser dividida em três fases: a primeira, profundamente influenciada pelo simbolismo, com poemas como “Saudade” e “Versos Íntimos”; a segunda, expressa uma visão de mundo peculiar, cuja principal obra é o soneto “Psicologia de um Vencido”, e a última, com uma produção mais complexa e madura, inclui “Ao Luar”.
É patrono da cadeira número 1 da Academia Paraibana de Letras, ocupada, atualmente, por José Neumanne Pinto.
Augusto dos Anjos foi acometido de uma pneumonia e faleceu em Leopoldina, Minas Gerais, no dia 12 de novembro de 1914.
Poemas de Augusto dos Anjos:
O Pântano
Podem vê-lo, sem dor, meus semelhantes!… Mas, para mim que a Natureza escuto, Este pântano é o túmulo absoluto, De todas as grandezas começantes! Larvas desconhecidas de gigantes Sobre o seu leito de peçonha e luto Dormem tranqüilamente o sono bruto Dos...
Budismo Moderno
Tome, Dr., esta tesoura e… corte Minha singularíssima pessoa. Que importa a mim que a bicharia roa Todo o meu coração depois da morte?! Ah! Um urubu pousou na minha sorte! Também, das diatomáceas da lagoa A criptógama cápsula se esbroa Ao contrato de bronca destra...
Psicologia de um Vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se...
O Morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. “Vou mandar levantar outra parede…” – Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda,...
A Esperança
A Esperança não murcha, ela não cansa, Também como ela não sucumbe a Crença. Vão-se sonhos nas asas da Descrença, Voltam sonhos nas asas da Esperança. Muita gente infeliz assim não pensa; No entanto o mundo é uma ilusão completa, E não é a Esperança por sentença Este...
Vozes da Morte
Agora, sim! Vamos morrer, reunidos, Tamarindo de minha desventura, Tu, com o envelhecimento da nervura, Eu, com o envelhecimento dos tecidos! Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos! E a podridão, meu velho! E essa futura Ultrafatalidade de ossatura, A que nos acharemos...
Vozes de um Túmulo
Morri! E a Terra — a mãe comum — o brilho Destes meus olhos apagou!… Assim Tântalo, aos reais convivas, num festim, Serviu as carnes do seu próprio filho! Por que para este cemitério vim?! Por quê?! Antes da vida o angusto trilho Palmilhasse, do que este que palmilho...
Versos Íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão — esta pantera — Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também...
Saudade
Hoje que a mágoa me apunhala o seio, E o coração me rasga atroz, imensa, Eu a bendigo da descrença, em meio, Porque eu hoje só vivo da descrença. À noute qunado em funda soledade Minh’alma se recolhe tristemente, P’ra iluminar-me a alma descontente, Se acende o círio...
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