Por Igor Calazans

Quando iniciei o movimento LaB Poético, em agosto de 2020, jamais poderia imaginar a quantidade de pessoas que conseguiríamos reunir em tão pouco tempo. Em apenas dois anos e meio, cerca de 200 participantes tornaram o nosso movimento maior, recebendo gente de todas as regiões do país, até mesmo fora do Brasil, e que  semanalmente se encontram para dialogar, produzir, interpretar e manifestar suas impressões, criando-se um ambiente familiar e de acolhimento. Alguns, infelizmente, precisaram sair, mas outros, tantos outros, se mantiveram, retornaram, ou iniciaram nossos módulos, deixando a certeza de uma coisa: o LaB FICA e VIVE na vida de quem o frequenta, proporcionando algo sempre relevante para seguirmos nossos próprios passos.

E, claro, diante disso, também temos sempre um grupo da “resistência”, aqueles e aquelas que não largam a mão, nem quando “vou para as montanhas”, tirar uns dias de folga. Esse grupo vive o LaB  desde que entraram, não faltam um encontro sequer, e confiam na nossa proposta com dedicação. Assim, mais do que justo, homenagearei aqui essa turma que revigora, sustenta e fortifica o nosso movimento para aquilo que, sem dúvida, é a nossa história.

O meu muito obrigado e Bora, Bora, Bora!


TURMA DA RESISTÊNCIA DO LAB POÉTICO

 

SIMONI GIEHL

Simoni Giehl, nasceu na cidade de Santo Cristo, Rio Grande do Sul, em 06 de maio de 1989, e reside atualmente em Nova Araçá-RS. É poeta, escritora, idealizadora do projeto Permita-me Florescer, graduanda em Pedagogia, produtora cultural. Além de participações em Antologias nacionais, possui três livros publicados: “Da dor ao Amor, Poesia” 2020, Ed. Selin Trovoar; “P de Pé, Pé de Poesia”2021 e  “Alfredo em um sonho todo azul” 2023. Integrante do Laboratório Poético desde a sua turma inicial, em agosto de 2020.

VOLTA E MEIA

Uma dança se inicia
dá-se um passo
Dois depois três
Em seguida rodopia
Rodopiando igual pião
O peão lhe estende a mão
Aperta, afrouxa
Volta e gira, gira e solta
Tem se assim uma meia volta
Volta e meia se emaranha
Emaranhado segue o passo
No compasso dessa dança
Tinha a prenda em seus cabelos
a esvoaçar tão linda trança
Trança essa que em sua ponta
Tem a enfeitar um lindo laço
No enlaço o embaraço
Volta gira, gira e solta
Enamorado no abraço
Perde a conta e nem se dá conta
Volta e meia, na meia volta
Pisoteou a sua bota
“Aí bota aqui, aí bota ali o seu pezinho
O seu pezinho bem juntinho com o meu”
Tão juntinho, tão juntinho que ao pisar
O pé meu, o meu pé foi que doeu.

Sobre Simoni: Si é nossa mais antiga participante, está desde o primeiro dia de vida do LaB. Acompanhá-la, ver a sua desenvoltura como poeta, é um exemplo cabal de como a poesia trabalhada com prazer possui um poder transformador na vida de quem por ela se dedica. Si é uma mulher batalhadora e fez da poesia mais uma de suas justas causas. Cada vez mais aprofunda o essencial de sua poética, revelando, principalmente a si mesma, um olhar atento às suas origens.

ÉLVIS ALÍPIO

Élvis Alípio da Silva nasceu em São Paulo, capital, no dia 31 de agosto de 1981. Formado em Administração de Empresas, atualmente é garçom. Como poeta divulga seus escritos nas redes sociais e participou da Antologia Nacional, “Encontro Poético”, de 2020. Está no LaB desde o seu início, em agosto de 2020.

*
Do pó vieste
Ao pó retornarás
Assim foi nosso amor
Antes de começar
Assim ele acabou
Sem deixar rastros no ar.
Uma tempestade se formou
Depois que tudo acabou
Marejando as pupilas
Que dormiam tranquilas…
E despertaram abruptamente
Ao som da violenta enchente
O vento quis ajudar
Mas, só sabia soprar
Mais areia fininha
Nos olhos da menininha
Lá de cima a areia avistou
Nosso amor que se findou.
Que era deveras bonito
Mas, porém, foi finito
Como a areia que sopra agora
Nos olhos da menina que chora

Sobre Élvis: Mano Elvis”, como apelidamos no LaB, é o que dizemos de “Poeta da Vida”. Faz de sua rotina a verve para seus manifestos mais expressivos. Utiliza as rimas com sabedoria para contextualizar os absurdos mundanos, ao mesmo tempo em que preserva a ironia para aprofundar os temas mais difíceis de dizer.

HELENA CRISTINA

Helena Cristina Amancio Cabral é natural de João Pessoa -PB e possui licenciatura plena em Ed. Física, MBA em Turismo, e exerce a profissão de Guia de Turismo Regional e Nacional. Participou como co-autora de algumas antologias: Encantos Nordestinos; O Natal entre Nós; É Preciso Amar as Pessoas (um tributo a Renato Russo) e I Antologia Literária de Picuienses e Convidados. Participou do Projeto Feminices Poéticas em 2020. Acadêmica fundadora da Academia Internacional de Literatura e Artes Poetas Além do Tempo. É membro do Movimento Laboratório Poético desde seu nascedouro, em 2020.

Deífico

Eu o vejo sobre os céus
Sua angélica brancura
É conforme diz a escritura
Oh, magnânimo filho de Deus!

Grava-me…
Como selo em teu coração
Com os dons do Espírito Santo
Como a beleza da morte

Transforma-me…
Paciente, prestativa
Repleta de esperança e fé
Pela luz do amor

Purifica-me…
Desapropria meu corpo
Do abismo da paixão
Regozija meu viver

Perdoa-me…
Retoma minha vida
Lava minhas vestes
Com o teu sangue

Salva-me…
Confio em tuas promessas
O sofrimento e a conversão
Da minha alma te entrego

Ama-me…
Para que minha força
Não seja como ondas ao vento
E sim como uma rocha

Deifica-me…
Oh, quão Divino onipotente!
Tuas palavras prodigiosas
Saciam a fome e sede do meu ser.

Sobre Helena: Heleninha, quando a conheci, logo percebi que se tratava de alguém que transborda poesia à flor da pele. Como eu, também teve a inspiração de Manuel Bandeira para amar poesia. O simbolismo que ela encontra para fomentar a sensibilidade de seus poemas, soltam da imagem a voz que nos toca profundamente.

ELIANA ZANDONADE

Eliana Zandonade, nasceu em Guaçuí, ES, em 4 de dezembro de 1967. Mora em Vitória e é professora da Universidade Federal do Espírito Santo, formada em Matemática e Estatística, com mestrado e doutorado em Estatística. Contadora de histórias para crianças de todas as idades, faz parte do grupo Chão de Letras, de contadores de história. É escritora de livros infantis e já publicou oito livros. Poeta, já participou de uma antologia, no “Prêmio Absurtos 2022”, no livro “Poesia Ativa” e ganhou um prêmio de melhor soneto em parceria com Ive Lima, no concurso “Poesia Lares Errantes”, em 2021, promovido pelo Instituto de Artistas Errantes. Participa do LaB desde janeiro de 2021.

Casa da Infância

Longe de casa
Estrangeiros
Quando o fogo acende
E o cheiro do cozido,
Do arroz e do feijão
Enche boca e olhos de emoção
É que deságuam saudades

Um vôo nas asas da águia
Nos leva de volta
À casa da infância
Onde ouvimos a mãe
Nos chamando para o jantar

Esta casa nós levamos nas costas
Feito caracol,
Na bagagem da memória
Que nunca nos deixa só

Sobre Eliana: Eliana quando entrou no LaB não se dizia poeta. Imagina?! Era só o que eu precisava saber para mostrá-la o quão poeta era sem precisar, naquele tempo, produzir sequer um poema. Depois, encontro a encontro, apareceu uma poética deliciosamente desafiadora, tamanha a inventividade de suas vozes e imagens construídas para descrever o mundo que passa por seus olhos.

IVE LIMA

Ive Lima nasceu em Salvador, Bahia, no dia 04 de outubro de 1973. Poeta e professora, possui um livro publicado,  “Entre versos e voos”, pela Editora Absurtos, em 2021, além da participações em antologias nacionais, como, mais recentemente, a Antologia “Feminino Infinito”, de 2023. Participa do LaB poético desde janeiro de 2021.

Ato de Sanidade

É a loucura que nos mantém sãos
nesse vasto mundo vão
do povo mudo e robotizado.

É na loucura que a alma vive
o coração se acalma, bate suave
fora do tic-tac descompassado

É pela fresta da loucura que brota
a pulsão da vida que se enrama
insiste mesmo quando a rotina suplanta

É a loucura que me toma
num minuto escrevo a alforria
e me liberto para o tempo de ser.

Sobre Ive: Nossa “Amora”! Ive é uma profusão de poesia em meio às origens de seus sentimentos. Do amor mais visceral à total desilusão; da fé em seus ancestrais às denúncias sociais de um mundo sem escrúpulos, ela, cada vez mais, entende e usa a força de sua voz interior para sacudir quem lhe passe por perto.

KELLY MACHADO

Kelly Maria Machado da Fonseca, brasiliense, nascida a 03 de fevereiro de 1980, é contadora. Seduzida pelas palavras e pela liberdade de alçar voos com a poesia, participou do livro “Entre Versos e Voo”, de sua amiga e parceira poética Ive Lima, e da Antologia Poética “Poesia Ativa”, da Editora Absurtos. Começou a escrever nas redes sociais em 2017 e no momento encontra-se trabalhando em seu primeiro livro solo. Participa do LaB desde 2021.

*
Porque se esconde entre tantas?
Porque não se deixa em estampas
Porque te deixas na pele
Se o que te veste inteira encanto
Faz sorrir meu pranto
Porque?
Porque me questiona nas madrugadas
Enquanto a pele quente decanta tua alma
Porque se deixa desinteressada
Enquanto clama sorte
e face a face cigana
arrastando poemas nas sombras
encanta o feito da pele que clama
desembocando a selva no seu doce ósculo.
Atrito aflito de quem foge

Sobre Kelly: Kellyzinha encontrou na poesia o que a poesia procura em uma poeta: autenticidade. A honestidade que exprime em  seus versos traz à tona um ser à procura do que lhe falta. Dos poemas sedutores, onde o erotismo se revela aos poucos, às inquietações da sua relação com o mundo, sua voz anuncia a necessidade de dizer o que sente.

PATRÍCIA RENATA FALCÃO

Patrícia Renata de Freitas Falcão nasceu no dia 02 de outubro em Goiânia, Goiás, no Centro-Oeste brasileiro. Mãe de dois filhos, é Psicóloga Clínica e utiliza a escrita como uma de suas ferramentas profissionais. Publicou dois livros, um infantil chamado “Catapora” (Editora Belvedere, 2016) e o outro, de poemas, intitulado “Imperfeição” (Palavra e Verso, 2020), além de participações em jornais acadêmicos e regionais, bem como as antologias nacionais: “Sororidade em plena calamidade”, “Desabrochar”, “Da Sujeição à Ascenção: Fulgores do Empoderamento Feminino”, “ Alma Plena” , “Entre Versos e Estrelas” e “Versos delas para elas”. Iniciou no LaB no final de 2020.

Concha Acústica

Carrego na palma da mão
Os ecos das veias do mar,
Batendo no labirinto
Oxum, Axé, Orixás!

Choram mexilhões
Nas areias do infinito,
Espirros das espumas chiam
Bem próximo da acústica
Do meu ouvido com alma
De Oxum, Axé, Orixás!

Enche e chia, esvazia!
Enche e soa vazio, ecoa
Enchente inexistente
Da maré que enxágua
A enxurrada na porta
Do peito exigente.

No mergulho som que passa,
Vibrando apenas em nossa
Concha marítima de ondas sonoras
Em paredes de carapaças.

Sobre Patrícia: Nossa querida “Dra. Poesia” é uma poeta que nos inquieta a cada encontro. Dona de uma poética profunda, mental, mas, ao mesmo tempo, que demonstra emoções singelas e tão humanas, faz com que, por muitas vezes, paremos para ouvir, ler e reler, repetidamente os seus versos. Encontrou um jeito muito próprio de poetizar e provocar impulsos diante seus significados.

DIVA MARINHO

Diva Helena é natural de Muriaé- MG. Nasceu no dia 02/03/1968. Atuou como professora trinta e dois anos na Rede Municipal de Ensino de Muriaé – MG. É apaixonada por Literatura, exercendo também Contação de Histórias. É Graduada em História, Sociologia e Filosofia pela “Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Santa Marcelina” – Muriaé – MG e Pós-Graduada em Gestão Escolar “L. Senso” pela “Universidade Federal de Viçosa” -Viçosa-MG. Diva escreve poemas há bastante tempo e lançou ao final de 2020 seu livro solo “Poemas que a vida me trouxe”. Participa de Antologias e também lançou com quatro amigos o livro “Entre amigos”. Participa há quase dois anos do LaB Poético.

Ventre de lágrimas

Desabrochamos em tempos e
espaços diferentes
Viemos do mesmo ventre
Ventre que recebe a semente
Ventre que fecunda amor
Ventre que gera vidas
Ventre de mulher fértil
Ventre frágil expelindo vidas
Ventre que experimenta dores
Ventre que ouve o choro da cria nascendo
Ventre que espera amor
Ventre sedento de carinho
Ventre que é um ninho
Ventre que cresce sozinho
Ventre que verte lágrimas
Ventre que perde um filho
Ventre que verte bênçãos
Ventre de oito filhos
Ventre de Maria de Lourdes

Sobre Diva – Quase sempre a primeira a entrar quando abrimos a sala, Dona Diva é daquelas poetas que prazerosamente apresenta um poema que, de cara, jamais diríamos ser dela. Uma poética de alma livre, subversiva, e que se apresenta quase destemida diante opiniões supérfluas. Traz uma força de vida e uma adoração pelas palavras que contagiam o espírito dos seus versos.

JUNE TRAVASSOS

June Travassos Vasconcelos nasceu em São Paulo no dia 08 de fevereiro de 1967, atualmente mora em Olinda Pernambuco. Professora e poeta, tem dois livros de poemas publicados: “Hoje nasci para amar”, (uma produção independente) e “Dentro de nós”, publicado pela Editora Absurtos, além de participações em antologias poéticas, contos Fantásticos e concursos de crônicas na revista “Perto de casa”. Em 2021 começou a participar do LaB Poético.

Vida

Segue a lagarta ao longo da vida
Comendo folhinhas que a vida oferece
Pelo casulo tem a vida engolida
Interrompida, a vida esmorece

Uma borboleta nasce e cresce
Criando asas resplandece a vida
É a vida que rejuvenesce
Naturalmente, numa outra vida.

Sobre June: June é daquelas poetas que entra no LaB “prontas”. Já tinha uma poética muito bem definida. Coube a mim aprofundar essa identidade ainda mais para que encontrasse, em suas próprias novidades, formas de manifestar o que lhe falta. Hoje, de certa maneira, conseguimos, tornando-a um poeta com mais e mais possibilidades de reinventar suas incríveis memórias.

AMANDA AZULAY
Amanda Azulay Campos, nascida a 11 de outubro de 1994, no Rio de Janeiro. Psicóloga, atua com clínica e perícia judicial. Pós-graduanda em Psicologia Jurídica na PUC-MINAS. Desde 2023 escreve para o Recanto do Poeta, assinando a coluna “Psicanálise e Poesia”.  Iniciou a sua trajetória no LaB poético em 2022.

*
Naquilo que se vê e crê
Ter a mais nítida aparência
Mesmo ali pode haver
A transparência de um engano.

A traição de um acalanto
Que retorcido vira espada
E dilui ilusões em camadas
De pregos escondidos.

São os ecos de uma verdade
A confundir a própria vaidade
Tão falsamente espelhada
quanto uma cópia velada.

Sobre Amanda: Ela me disse que para ser Poeta precisaria aprofundar a sua contemplação. Ver os detalhes de forma diferente e conseguir expressar da maneira com que imaginava. Cada dia mais Amandinha transforma esse olhar em palavras que nos tocam e fazem pensar a vida diante o oceano de seus olhos.