Laura Reichenthal, mais conhecida pelo pseudônimo Laura Riding, nasceu em 16 de janeiro de 1901, em Nova Iorque, Estado Unidos. Uma das mais aclamadas poetas de sua época, foi voz de suma importância para o aprofundamento dos pensamentos femininos independentes.  Considerada “a maior revelação da poesia norte-americana”, pelo grupo de poetas-críticos (influenciados por T.S .Eliot) , tornou-se, a partir de 1924, a única mulher a integrar a infantaria da Nova Crítica. No ano seguinte, em 1925, recém-divorciada do professor de história Louis Gottschalk, muda-se para Londres, a convite do poeta inglês Robert Greeves. Na Europa ela intensifica seus trabalhos em relação à poesia modernista, conhecendo nomes como Ezra Pound, Gertrude Stein e W.B Yeats e, claro, Eliot. Nesse período publica livros polêmicos, defendidos pelas vanguardas, mas muito menos reconhecidos pela crítica. Por um curto espaço de tempo também mora na França e em Mallorca, ilha da Espanha, onde acompanha de perto o início da Guerra Civil Espanhola. Em 1938, de volta à Inglaterra, publica a sua coletânea de poemas.

Fica quase duas décadas afastada da poesia. Só em 1962, Laura Riding volta à cena literária, assinando seus poemas como Laura (Riding) Jackson, após casar-se com Schuyler Jackson, com quem voltou para os Estados Unidos para viver em um fazenda em Wabasso, na Flórida. Viúva, passa as décadas de 80 e 90 publicando diversos livros, tornando-se mais conhecida à nova geração de seu país. Em 1991, ano de sua morte, recebeu o Prêmio Bollingen de Poesia

MORTE COMO MORTE

Conceber a morte como morte,
É dificuldade conseguida facilmente,
Brancura se precipitando entre
Imagens de entendimento,
A morte essa mão fria e veloz
Sobre a testa quente de suicídio.
Assim é conseguida facilmente
Por um instante só. Fornalhas, outra vez,
Rugem nas orelhas, de novo o inferno revolver-se,
E o olho elástico detém o paraíso
A uma visível distância da cegueira,
E atordoado o corpo ecoa
“Assim, assim, como nada mais.”

Como nada — uma similaridade
Sem semelhança. O olho profético,
Que se fecha à dificuldade,
Se abre se comparado,
Dividindo a realidade
Como um presente simples demais, para a qual
Gratidão não tem linguagem,
Nem previsão tem visão.

LIVRE

Pensar é o jeito mais pobre de viajar —
Trilhas na cabeça,
Sonhos na cama.

Viver num corpo é o jeito mais triste de viver,
Trancado em si e só,
Em carne e ossos.

Tirem-me da cabeça,
Tirem-me do corpo,
Acordem-me da cama.

Em vez de dama,
Vagabunda e morta.

O MUNDO E EU

Isto não é bem o que quero dizer, não,
Nada mais do que o sol é o sol.
Mas como significar mais corretamente
Se o sol brilha aproximadamente?
Que mundo mais desajeitado!
Que hostis implementos de sentido!
Talvez isto seja o sentido mais preciso
Que talvez fiquem bem o saber disso,
Ou então, acho que o mundo e eu, sim,
Devemos viver como estranhos até o fim —
Um amo azedo, ambos duvidando um pouco
Se um dia houve algo como amar o outro.
Não, melhor termos quase certeza
Cada um de nós onde é que exa-
tamente eu e exatamente o mundo falha
Em se cruzar por um segundo, e uma palavra.

UMA GENTILEZA

Estar viva é estar curiosa.
Quando perder interesse pelas coisas
E não estiver mais atenta, álacre
Por fatos, acabo este minguado inquérito.
A morte é a condição do supremo tédio.

Vou deixar que me desintegre
E aí, por saber da paz que a morte traz,
Seria bom seguir convencendo o destino
A ser mais generoso, estender, também,
O privilégio do tédio a todos vocês.

*Do livro “Mindscapes”, Editora Iluminúrias, 2004.
Tradução de Rodrigo Garcia Lopes