Flip 2020: Elizabeth Bishop será a homenageada e gera polêmica

Anunciado no final do ano passado, mais precisamente no mês de novembro, o nome da poeta norte-americana Elizabeth Bishop como homenageada da 18ª Festa Literária Internacional de Paraty, a “FLIP 2020”, continua causando grande repercussão. Além de ser uma autora estrangeira, apesar de ter vivido por 18 anos no Brasil, as suas posições políticas, apoiando governos conservadores, estão gerando revolta no público, que ameaçam “boicotar” o evento.

Bishop será a primeira autora internacional homenageada pela FLIP. A importância da escritora na literatura mundial e a sua proximidade com o Brasil, foram os aspectos enfatizados para a escolha. No site oficial do evento, a curadora Patrícia Diamante apontou razões:

“Elizabeth Bishop é antes de tudo uma das mais importantes poetas do século 20. Dito isso, ela viveu mais de 15 anos no Brasil e produziu parte de sua obra aqui, claramente influenciada pela experiência estrangeira e brasileira. Basta ler suas cartas para termos clareza disso”, disse Diamante, ressaltando que ela foi também uma importante difusora da literatura brasileira nos países de língua inglesa, tendo traduzido nossos maiores poetas.

Elizabeth Bishop e o Brasil

Já renomada no mundo literário, Elizabeth Bishop chegou ao Brasil em 1951, aportando em Santos, litoral de São Paulo. A intenção da poeta era passar apenas duas semanas no país, porém a paixão pela arquiteta e urbanista Lota de Macedo Soares, mudou os seus planos.

As duas viveram em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na famosa “Casa Samambaia”. Ao lado de Lota, Bishop conviveu com personagens importantes da política e da cultura brasileira, como o então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda.

Erudita e muito interessada em aprender sobre a literatura latino americana — em especial as obras de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Mello Neto — a poesia brasileira reverberou profundamente em sua própria produção. Bishop traduziu poemas de grandes autores, como Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Oswald de Andrade e Vinícius de Moraes, ajudando a divulgar mundialmente as suas obras.

Depois da morte de Lota, em Nova Iorque, no ano de 1967, Bishop retorna aos Estados Unidos. Em 1969,  no entanto, volta ao Brasil para morar em Ouro Preto, Minas Gerais, onde comprou e reformou uma casa, que batizou de “Casa Mariana”

A ideologia política de Elizabeth Bishop

A grande polêmica, principalmemte expostas em comentários nas redes sociais, sobre as posições políticas e ideológicas de Bishot, vem acompanhada de textos, cartas e poemas, onde a autora defende o “udenismo”, apoiando a União Democrática Nacional (UDN), partido de orientação conservadora, opositor às políticas populistas e à figura de Getúlio Vargas.

Apesar do seu pouco aprofundamento ao tema, quem a defende diz que essa postura deu-se obviamente pela proximidade com Carlos Lacerda e também à elite com quem convivia na época.